quinta-feira, 28 de maio de 2020

Vermelho também

Que quer dizer este entrelaçar de dedos que começa lento, senão que por dentro estamos ligeiramente prontos para gritar com o corpo um desejo? O que poderia dizer este contemplar do teto da sala sem nenhuma palavra, senão que já não estamos habituados a ocupar os silêncios com confissões ou significados? O que tem de mortal e nocivo numa boca entreaberta à procura? Como compreender este abraço quente e terno, que gruda? Como definir essa força impelindo um corpo contra o outro, se paira no ar uma despretensão absoluta de diagnósticos? E por falar em diagnósticos, que parte do veneno deste processo te contaminou? Que parte te acalma e tranquiliza? Qual é o gosto que deveria ter a saliva, se acordo de madrugada e sinto sede demais e de mais? O que é toda essa vontade de gozo, tão dedicada e direcionada? Que é este capricho de querer deixar fluir de fora para fora e ainda assim se abrir um pouco? Quantas metáforas se inauguram quando bem no fundo de mim há algo desconfortável capaz de ferir, e ainda assim insistimos?
Eu não sei. E encaro com graça que, pelo menos isso, não possa descobrir sozinha. Tem mesmo um quê de vingança contra a morte esta vontade de se permitir levitar na tentativa enquanto vive e eventualmente dançar em êxtase, arrebatado por um acerto, menor que seja. Então está certo: é mútua a confiança no potencial desta chance, seja lá o que encerre a descomplicação desta possibilidade.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

O tempo antes da vindima

Outro dia uma amiga foi brutalmente ferida de amor e senti um impulso de entrar no carro e ir correndo socorrê-la. Imediatamente eu quis curá-la. Express. Arrancar tudo de uma vez. Livrá-la de antemão de toda culpa. E oferecer vodka ou cachaça. E cachorro-quente. E já ir avisando e antevendo o vômito. Quis oferecer um colo. Acelerar o processo. Dar a ela uma sacudida. Gasolina e fósforo para queimar todas as coisas que lhe dessem na telha na frente da porta de casa. E o que mais ela sentisse que precisasse, eu tinha para compartilhar. Mas não podia sem um pedido de socorro alto e claro.
Quis escrever a respeito. Depois achei invasivo. Depois me dei conta de que podia falar daquela dor  porque era também um pouco minha. Como a vontade de sair logo daquela condição, a qualquer custo. De dar as voltas por cima e por baixo todas de uma vez. Eu conheci a vontade de chorar. E depois a de parar de chorar. E a de querer lustrar o orgulho com um pano bem limpo, vestir uma roupa nova e sair por aí, a fim de restabelecer a ordem natural de todas as coisas, caótica como ela só.
Ouvi paciente a versão completa. Aproveitei para tentar assimilar a ternura e a sensatez que ela tinha com aquilo, e que eu nunca tive, porque ela é mais doce e mais nobre que eu. E me dei conta de que eu não devia tentar arrancar isso dela. Devia deixá-la criar sua própria receita para sair daquele lamaçal.
Ainda assim, ofereci um lenço. Banho quente. Roupa limpa. Chá bem doce. Pouso lá em casa. A manga da minha camiseta, na altura do ombro, pra que ela encostasse o rosto e ficasse ali o tempo que fosse necessário, embalada como criança pequena, soluçando eventualmente. Aceita em todas as suas fragilidades. Ela não sabe, mas também cogitei abrir bem as janelas, pra deixar o ar entrar. Lavando assim nossas almas. Em silêncio. Limpando o caminho das pedras. Remendei em pensamento os nossos rasgos, com todo cuidado. Tricotei ligeira as saídas de praia e os cachecóis de lã para que pudéssemos ir, mundo afora, protegidas do clima e de todo o mal.
Nessa época, outra amiga um dia acordou e me disse que ia começar a ler Voltaire e os clássicos e parar de pentear os cabelos. Era como se dissesse: vou aproveitar o tempo antes da vindima para criar musculatura. Embora elas não soubessem, havia um elo universal entre as duas e seus processos. Era igualmente potente assistir à que se quebrou toda de uma vez levantar e a que, depois de tanta construção, ainda queria reforçar os fundamentos das suas verdades.
Não se diz a uma mulher brutalmente ferida que vai passar. Isso ela sabe. Fará coisas impensáveis pra que aconteça. Sei porque já estive lá. Porque acontece todo dia. Nos é exigido este renascer, que só acontece de dentro pra fora e no tempo sagrado dos nossos próprios relógios.

sábado, 23 de maio de 2020

O manjericão agora tem quem lhe escreva

De onde estou te vejo de canto, por detrás da janela da sala. Ainda me surpreendo como uma planta como tu pode ser uma amiga tão honesta e íntegra. Confidente íntima, embora silenciosa. Uma certeza de vida. Pois saiba, manjericão, que o que sinto no cômodo ao lado é uma nostalgia felina, mas extremamente doméstica. Que faz com que eu me pergunte se as coisas mais importantes e intensas da minha vida já passaram e agora o que cultivo são apenas os ecos, as memórias a respeito, a tentativa de emular o que da primeira vez veio de golpe. Deve ser o que ocorre ao adicto quando se dispõe às segundas viagens. Aquela intenção - que já nasce falha - de tentar repetir exatamente a mesma alucinação e os momentos do jeito que eles aconteceram da primeira vez. Uma espécie de saudade perene de estar envolto naquela luz brilhante de plenitude. Daquele momento em que, passados dias ou anos, ainda nos lembramos, depois, de ter estado decisivamente vivos. Tenho uma certeza inconfundível de quando esta euforia me acontece. De quando houve uma conexão que deixou rastro com o que há de divino em mim. Passa o mesmo contigo, manjericão? Se tens na memória algum dia como aqueles meus, de uma alegria única e incontestável, concordas então que a manifestação deste brilho de juventude inconsequente já tenha pra nós se esgotado? Por acaso conservas uma esperança de que há felicidades maiores à nossa espreita? Não diz nada. Nem precisa sequer concordar comigo. Faz a tua fotossíntese calado para manter-se em pé, fincado na minha varanda. Sem embargo, hoje cedo acordei e tinhas flores. De mim também há duas. A que é só manjericão e a que tem flores. Vivo decidida a não deixar que uma mate a outra de fome.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Me salvar de mim

Levantei a cabeça com o espelho ainda fosco e adivinhei atenta os meus contornos no meio da nuvem de vapor quente. Meio disforme, mas era eu olhando pra mim. Sei porque havia quase uma dúzia de vincos paralelos manchados de batom e vinho tinto no lábio inferior projetado à minha imagem, à minha frente. Conheço bem os meus defeitos. Pequenos sinais do que fica marcado, apesar de toda distração e por causa dela. Símbolos das marcas do que se é, convivendo junto daquelas do que se foi. De repente, de tanto ter que me encarar, perguntei a razão de desejar sempre aquela mesma fuga eufórica. Que portas tenho mantido trancadas para não encontrar as verdades e os ossos das que vieram antes de mim? Questionei meu reflexo sobre que curas posso me proporcionar e tenho me recusado. Pensei nas privações que não faço. Nos sinais que negligencio. Então da próxima vez direi: de muita coisa. A gente foge de muita coisa. A realidade é muita coisa. E muita coisa do que a gente foge importa. No fim do dia, não quero fugir nem ser uma donzela indefesa. No fim do dia estarei a sós com as chaves. Só eu posso me salvar de mim.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Eco [17]

- É óbvio que a tua leveza não se sustenta num compromisso... 
Arqueei as sobrancelhas e arregalei os olhos esperando que ela concluísse o raciocínio antes de começar a me defender.
- ...porque a intimidade acelera muito essa tua vontade horrenda de controle. Como da vez que tentou me ensinar a plantar e regar o meu próprio manjericão, lembra? É um exemplo bobo, mas era um momento meu, eu já sabia fazer aquilo ou pelo menos queria descobrir como fazer por mim mesma. Só que você é in-ca-paz de deixar as pessoas serem como são. Praticamente um imperador romano da convivência romântica. Eu não sei... eu francamente não sei pra onde foi toda aquela doçura de antes. É como se o passar do tempo tenha acordado em ti uma vontade de me consertar e expandir o território das tuas verdades.

Ela sorriu cínica, fazendo aspas com as mãos na palavra consertar. De um jeito que não deixava dúvidas de que, segundo as convicções dela, não se deve tentar consertar ninguém. Decisivamente, confessar tudo aquilo de uma vez parecia blindá-la um pouco do poder que eu vinha exercendo sobre ela. A verdade estava dita. Agora vinha o desafio.
Eu só assenti, meio envergonhado. Porque talvez, nem tão no fundo assim, a Laura tivesse razão. E ela era terrivelmente precisa nas palavras quando tinha razão. E era mesmo terrível ouvir verdades da boca dela naquele contexto. E pensar que fui eu que puxei o assunto, crente de que ela não concordaria comigo! Não lembro do que respondi depois, nem se respondi, mas tenho recordação de ter pensado a respeito em todos os inícios que se seguiram. Talvez tenha sido ali, naquela conversa, que eu comecei a fugir desse processo de não sustentar minha "leveza" em qualquer relacionamento, buscando sempre identificar o momento exato em que a melhor versão de mim se perde para esta outra que parece um imperador romano. E cortar tudo ali.
Hoje me ocorreu o que, naquele dia, eu poderia ter esclarecido à Laura para desfazer um pouco a minha imagem ditatorial na cabeça dela. Devia tê-la lembrado que tudo em mim sempre foi domínio público. De modo que o cara leve e despreocupado do início já era um perturbado, e é injusto insinuar que eu não tenha transparecido a minha loucura. Ela apenas não feria a Laura antes, e até aí, ponto pra mim. Pra mim, a quem nunca faltaram habilidades sociais. Eu sempre me reparti com as pessoas e isso significa sempre dar a elas todos os detalhes da minha personalidade, ao menor sinal de convívio. E, sim, eu sempre tive um ego do tamanho do mundo. Talvez essa certeza de mim implique uma facilidade para forjar a intimidade com alguém desde os primeiros tijolos. E quem sabe esta intimidade pretenda mesmo contaminar as pessoas com as minhas verdades, mas nem por isso eu merecesse ser tão duramente responsabilizado pela minha tentativa de persuasão.
A informação de que a minha leveza se despedaça neste processo de conviver a longo prazo mudou um pouco as coisas de figura, Laura. Nada mais foi igual pra mim depois daquela nossa conversa. Em jogos de verdade ou desafio, eu sempre provoquei as verdades. Talvez tenha estado preparado de menos para responder aos desafios.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Cafuné de Morfeu

O que vale a luta de resistir a um cafuné? Eu investigo. Já varri todos os cantos atrás do que compense e ainda não encontrei. Essa procura é cansativa. É um descobrir, com algum espanto, que sei gostar do jogo mais do que do peão em si. Que espero as perguntas certas mais do que quero ouvir respostas. Pensando bem, não diz nada. E não pense que eu sou uma pessoa terrível. Ainda te deixo entrar, sirvo café, faço a janta. Mas há essa placa de aviso na porta, escrito: goste ou não, você virou personagem. Não, não se preocupe. Isso quase nunca significa algo. Por aqui recuso bem os nocautes. Sou só eu buscando do que me ocupar. Sou só eu fazendo o que eu faço sempre com as minhas histórias. Agarrando nas paredes lisas das minhas projeções. Resistindo contra o óbvio: em condições normais, não vai dar pra nós. Cansaço é uma desistência do corpo. Dormir é morrer um pouco. Eu nunca quero morrer. Quero estar desperta. Atenta. Quero resistir sempre e bravamente e encontrar justificativas e entrelinhas. Queria não exigir as entrelinhas. Sonho conseguir olhar a vida por essa perspectiva do que faz adormecer com tranquilidade, ao invés de me deter no que compensa lutar para me manter acordada.

sábado, 9 de maio de 2020

Banho quente

Não sei sair de um banho quente no inverno. Do mesmo jeito que não consigo concentrar no que as respostas de fato significam em vez daquilo que insinuam. Às vezes prefiro o terreno incerto de qualquer coisa. Reparto o frio na barriga em fatias, para gozar dele um pedaço por vez. A pele arde. Eu avermelho. Não sei olhar as coisas como elas são senão através da lente de como poderiam ser. Quando dou por mim, a água do banho já me esquentou os pés, correu as costas, me viu toda nua, entrou boca adentro. Um banho quente é bom porque é simples. Porque nos simplifica. Basta um corpo e uma vontade de banho. Um banho quente não exige longas digressões. Não se relê um banho quente várias vezes para tentar entendê-lo. Um banho quente não respeita caras enigmáticas e nele não cabe se demorar nos problemas. Com frequência, é num banho quente que fluem as soluções. Está para o inverno frio como o banho de chuva para o verão, renovando o ânimo. Com o cabelo molhado contra ombros e braços sem qualquer exigência, a gente se sente um pouco mais confortável e acolhido. Não sei sair de um banho quente no inverno, mas para conservar o quentinho de uma surpresa sempre nova, entre um banho e outro esqueço sempre da expectativa do próximo.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Vícios

Beber fumar comer cheirar partir julgar jogar comprar poder. Mentir, meter, engrossar, fazer rir. Atenção. Reclamar. Repelir. Se vitimizar. Nesse tempo tão extremo, como usar os olhos dos outros de encarar as próprias fugas? Não, não falo de empatia, porque da fonte da compulsão bebemos todos, então fazer este exercício não tem muito a ver com a mera gentileza de se por no lugar das pessoas ao redor para compreendê-las bem. Este exercício está mais para um caminho de condescendência comigo mesma. É como dizer: olha, queridos, compartilhamos desta neurose universal chamada vontade de fugir da realidade, e por isso não há nenhuma hierarquia entre os nossos vícios. É uma pena que essa complacência não se sustente por muito tempo. É uma pena que a eleição destes mecanismos que cada um tem pra si seja um processo tão misterioso. Tem a ver com moral? É um produto do meio? Remete à infância? Renovamos os votos com os nossos vícios todos os dias? É curioso tentar pensar em como cada um escolhe domesticar sua ansiedade e sua frustração diante da vida. Talvez isso possa dizer mais sobre as pessoas do que elas suspeitam. Sendo "pessoas" este enorme balaio do qual não estou apartada e "não suspeitam" o equivalente a: talvez a gente deliberadamente não queira saber, porque não tem força pra conter.
Eu preferiria ter o superpoder de curar e ser curada do que o de nos perdoar.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Um pouco de pressa

Passo a ponta do dedo no canto da boca pra lembrar que tenho boca, já que falar e beber ainda é mecânico. Vou atravessando uma extremidade à outra, sentindo o áspero de uma ponta de pele que mordi anteontem e agora está seca. Tenho procurado distrações dessa ordem. Individuais. Óbvias e um pouco inofensivas. Tenho estado distraída por necessidade, como os vigilantes dos filmes nos quais o mocinho precisa adulterar as câmeras de segurança num piscar de olhos, para completar o golpe de mestre. Eu tenho procurado me ocupar do mundo com ansiedade de consumir um pensamento inquisidor que me queime na fogueira. Tenho esquecido que não adianta mais ensaiar respostas. Nem ecoar gemidos. Procuro agora gritos de socorro pra atender, mas não faço nenhum barulho pra pedir ajuda. Não tomo iniciativa. Não reivindico os direitos da minha condição. Faço de conta que sou um livro aberto. Sendo as páginas como pernas que dão passos e se dobram, mas já não se abrem. A mão agora é minha. Evito pensar no atrito entre a minha maciez e a barba. Economizo imaginar tudo que ainda funcionaria de nós. Em tudo que se puxa, como gatilho. Em tudo que se testa da primeira vez. Na saliva amarga e molhada do início do dia e na ponta do polegar segurando o rosto pra que os outros dedos encontrem o pescoço. E depois a nuca. E depois um pouco de pressa. O sexo nunca devolveu as minhas respostas. Mas se eu jamais encontrá-las, perdê-lo é um desperdício.

domingo, 3 de maio de 2020

Selfie

Abro a geladeira. Depois a caixa de ovos. Por que será que é tão mais fácil e fluido se amar inteira quando há alguém ao lado validando o fato de sermos amáveis? Por que será que agora sobra tanto tempo pra reparar nesse único pelo crescendo do dedão do pé esquerdo, nas coxas meio moles do lado de dentro, no formato torto da sobrancelha e do queixo, no quanto o meu joelho dói se cruzo as pernas sentada no sofá? E quando faço silêncio reparando em coisas similares sobre o meu lado de dentro, as pessoas estranham. Habituaram à versão que dá bom dia sorridente, bem resolvida e meio motivacional. Devem pensar que sou constante. Praticamente feita de plumas. Como se essa versão introspectiva não fosse eu o tempo todo, disputando lugar com aquela outra. Que me adiantaria que qualquer um notasse que é sempre um duelo conflituoso? Quebro um ovo dentro do liquidificador. Depois o outro. Fecho a geladeira. Do que foi mesmo que me esqueci estando acompanhada? Do que foi mesmo que eu nos protegi me afastando? Ah, lembrei. De mim. Dessa que sempre tumultua a cabeça alheia ou se entedia fácil. Agora um pedaço de cebola. A receita não diz qual o tamanho do pedaço. Talvez a receita não funcione pra mim. Sei o que sempre me acontece no capítulo dois. Qual foi, maluca!? This is not a rocket science. Corto uma beirada. Um terço de uma cebola média. Tiro a casca. Jogo junto com a mistura espessa de gemas e claras cruas. Respinga um pouco pelas bordas. A minha cabeça tenta, mas não descansa um segundo desse escrutínio de si mesma nem enquanto eu cozinho. Estou trabalhando agora numa análise minuciosa e cansativa do que eu fui e do que serei, a longo prazo, se continuar repetindo este comportamento de ir embora sem olhar pra trás. Existe nela um ruído constante como o deste eletrodoméstico à minha frente, que gira rápido as coisas se eu aperto o botão. Sendo o botão da minha cabeça qualquer fração de silêncio. Sei que eu não digeriria cada ingrediente separado, nem se eu quisesse. Colho a salsinha. Cebolinha não tem. Manjericão vai um ramo inteiro com talo, porque estou com preguiça de separar só as folhas. Talvez essa vontade que me veio de ser vista e curtida por dentro justifique, de algum modo, a recente superexposição. Mas quero ser vista assim por quem? Eu estou me contradizendo? No fundo espero ansiosa ser salva das minhas certezas? Talvez tenha a ver com a validação externa para enfrentar tanta autocrítica: procurar ajuda pra me convencer de que está tudo bem em ter essa cara e esse corpo e essa confusão. Sobretudo essa confusão. De novo o liquidificador aberto. Sal temperado. Depois o óleo. Imagino comer esse tanto às colheradas e me dá um pouco de náusea, mas vou azeitando a mistura até ganhar consistência. E pronto. Consegui. É possível que nunca encontre as grandes respostas da minha humanidade, mas pelo menos agora tenho um pouco de maionese caseira. É só o que está ao meu alcance pra que tudo não insosse.