quarta-feira, 17 de julho de 2013

Se derrame. Se der, ame.

Clicar nesse link que você acabou de clicar, ou acessar a essa página, seja por qual meio e motivo você chegou até aqui, foi decisivo. Só há uma coisa mais importante do que saber se repartir: Saber e aceitar receber essa fração repartida de outra pessoa, seja como for. 
E então você sorri meio amarelo, com o canto da boca, quase modesto, porque lhe reconheço como alguém importante e que faz diferença pra mim. É bem possível que seja mesmo. Agora não adianta mais disfarçar, já te adivinhei. É assim. E é, também, porque vim te contar que cansei do modo como vinha levando a vida.
Mas mais que isso. É porque vim revelar a você que merecemos repartir nossos sorrisos, já que nenhum sentimento bom é bom o suficiente se não for compartilhado, assim como nenhuma amargura dói de verdade se conseguimos exorcizá-la com a superexposição. Expor uma amargura, ainda que indiretamente, é subestimá-la, já que ninguém costuma (ou ninguém deveria costumar?) oferecer o pior de si à toa. É quase como a criatividade... De tão nossa, parece merecer ser dividida. Oferecendo-a, desapropriamo-nos dela e cedo ou tarde seremos superados.
É possível ser triste calado e ser feliz sem alarde, sem inveja. É claro que é. Ninguém aqui insiste no contrário. Mas é tão melhor gritar felicidade, trocar felicidade. Sem se preocupar com incômodos, interferências. Dando de ombros ao revés e ao pesar. No fim, talvez até eles sejam necessários. 
“Amor próprio”, você insistirá. Mas nem isso é bom, de maneira egoísta. Manter-se numa ilha de onde se lança iscas ao mar, mas se está em distância segura dos predadores ou manter-se no centro das relações, em nome do amor próprio, é estar “perto” de tudo, mas ao alcance de nada. Idolatrar-se é uma maneira pouco inteligente de preservação e superioridade, já que estagnar é devastador. E só os muros que nos blindam, (in)felizes, nas nossas próprias abstrações, é que merecem ser devastados.
É preciso amar a si mesmo oferendo gentilezas decotadas, insinuando o melhor de si pra quem quiser repetir a façanha de doar ao outro o que é bom e transborda. E nunca se sabe onde estão escondidas essas pessoas se não deixarmos as conveniências e os velhos hábitos de lado.
O egoísmo e o instinto de autopreservação matam mais que a melancolia, que a depressão, que as mazelas emocionais todas. E se não matam, fazem coisa pior: Impedem de nascer. Nascer coisas bonitas que só nascem quando se está junto, aberto, atingível. Frágil, mas inteiro. Inocente e pueril outra vez, por escolha, mas repartido com o mundo no melhor vértice, por escolha. Comungando inspiração, olho no olho, sentido bonito aos dias.
Acho que ser feliz também é saber se derramar por aí.

domingo, 7 de julho de 2013

Eternidade

Às vezes qualquer impulso, em qualquer sentido, é contrário à condição. A frase parece desconexa, e talvez seja mesmo. Mas é que às vezes estamos em fase de inércia... Por um motivo ou por outro fomos desencorajados a agir. Qualquer decisão é comissiva demais pra caber em nossa vontade de sossego, de afastamento, de omissão.
Explico. É como se fosse melhor contemplar o passado e o futuro em vez de viver o presente. É como se um estado de negação nos condicionasse a deixar de acreditar que as escolhas são assim tão importantes. Ou simplesmente deixamos de escolher pra se eximir da culpa, da responsabilidade, da autoria dos atos correspondentes. Cruzamos os braços, mesmo descontentes, e esperamos: O tempo certo de perdoar, a maneira de romper, desapegar, livrar-mo-nos. É como se assistíssemos a própria vida à espreita do momento em que será necessário parar de amargar, fingindo que não vê.
É como se essa espera concretizasse uma briga silenciosa contra a própria condição que se apresenta: de uma vida média, inerte... Sempre igual. Decidir romper com o que nos impossibilita pode levar tempo, pode acontecer de ímpeto. Mas é primordial.
Descruzo os braços, olho em volta. Começo a prestar atenção no que interessa. É a fase que torço pra que se prolongue. É a máxima na qual não me queixo de estar inserida. É quando insisto que o rompimento com a mornidão vire eternidade.