segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"Qualquer menina sonha...

...com um cara como eu." Disse. E aquilo parecia tão sonoro quanto infundado. "Qualquer menina não gosta de ser designada como qualquer menina." Pensei. "Você não é uma, não há como saber o que nós, quaisquer meninas, pensamos." Minha ironia inconsciente gritou.
"Mas eu não sou qualquer menina." Foi o que respondi. Apesar de acreditar seriamente de que tentar convencê-lo disso a essa altura, já não era plausível. Não saberia dizer quem estava fingindo mais. O cara descolado e desinibido que ele tentava ser, ou a garota que assume o papel de preocupada com a sustentação da relação que eu estava representando.
Manti todos os músculos da face imóveis, afim de persuadí-lo da minha total indiferença para com o desgaste letal que aquele amor estava sofrendo no exato instante em que ele replicou:
"Se tu quer um cara que não ligue a mínima pra ti.." Decido aqui por substituir alguns termos, o que em nada altera o sentido das frases... "Eu estou sendo esse cara."
E se foi. E eu soube como das outras vezes, que doía mais nele do que em mim. Que ele voltaria.

Minhas forças estão aquém da força necessária pra fazer alguém mudar por mim. As mudanças não resolvem nada quando a personalidade está condicionada a ser aquilo e ponto final.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Dissimular inspiração - e sensações.

Como é bonito isso, de confiar que alguém lhe trará sempre o bem-estar. Que você voltará correndo pra quem lhe dá abrigo simplesmente porque bem lhe faz estar ali. Voltando, pra alguém incrivelmente real e que lhe dá a condição de sofrer em voz alta pela falta de tempo que você não tem.
Como é bonito isso de ficar em silêncio e saber com todas letras não pronunciadas que "você pode contar comigo, meu amor". O que fica inerente, nas ausências, é toda essa beleza de saber que haverá o regresso, por certo; que nada fora alterado ainda que com todo cotidiano hostil às doçuras do sentir. (E que saudade da doçura!)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O admirável Conto da Fada Chata

Fada Chata resolveu calar os sinos que usava para acordar. Entretanto, o (tele)transporte funcionou sem nenhum imprevisto, mas lembrou-se que o bilhete estava carente de renovação. Anotou na agenda da memória: Renovar o bilhete do (tele)transporte. Prosseguiu em companhia do Maquinista Atrativo. Em destino, os (nem tão) simpáticos duendes Chaveiro e Chaveiro-irmã a esperavam com sorrisos reluzentes. Fada Chata caiu em tentação e contou-lhes sobre as peripécias de seu mundo, tão diferente do mundo dos duendes. Hesitou quando duas da Tríade Formosa vinham lhe dizer às custas que a terceira confessara peripécias de Fada Chata a elas. Ecoou o som que Fada Chata não queria ouvir: Hora de render-se aos deveres deste belo dever que é ser observada ao passear em filas pelo centro de Fadópolis. Primeiro dia do terceiro Sêm do inverno. Conversas à toa no dia anterior lhe garantiam o motivo de não querer que aquela hora chegasse: Fada Chata tinha por certeza o Quarto da Anames com o Iluminível Eco, sempre tão presente, esse Eco. Fada Chata distraiu-se com observações de duende Chaveiro para a Tríade Formosa, mas pareceu não ser o bastante. Iluminível Eco puxava seu olhar como um ímã, que com todas as não-doçuras, insensatezes e o braço quase tão forte quanto o da pátria amada, sabia ser atraente em seus mistérios. Tantos-muitos mistérios que carregava, tantos-quantos Fada Chata não sabia contar ou prever. Fada Chata aguardara um arrepio ansiosa, o esperado arrepio que espera quem não consegue ver quem passa por si sem querer olhar. Arrepios são a forma mais sutil de sentir que Iluminível Eco está perto de Fada Chata. Eco não se aproximou com o resto que não fossem os olhos. A agenda da memória de Fada Chata é precisa e às vezes um tanto quanto cruel. Mas Fada Chata não teve outras emoções intensas ao fim do primeiro dia do terceiro Sêm do inverno, a não ser renovar o bilhete necessário para (tele)transporte.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Não por acaso inconstância tem cês em dobro.

Quando tento me equilibrar, formando o que chamam de personalidade, caio repetidamente. Produzo machucados e sigo ziguezagueando entre os baixos, médios e altos. (humores!) E falo tanto, e falo sempre, e desejo calar tantas vezes. Eis a minha especialidade: Completar com palavras os espaços das dúvidas que os sentimentos me trazem. Sou quase comum, não fosse por ser tão efusiva: Abuso dos nuncas, dos porquês e dos para sempres. E me permito. Ainda que o que ontem fora nunca hoje possa ser sempre, que o para sempre torne-se efêmero e que o porquê não passe de uma pergunta ressonando distante. Eu sou de lua porque gosto dela, embora acredite que ela muda muito pouco comparada a mim...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ler Ovelhas Negras, gostar de Caio Fernando e ter uma vida em Passo.

A boa vida de significado literal que tenho, nada tem a ver com quem se preocupa comigo. Embora deveria, já que muito tentam cuidar dela ou para que se torne melhor, ou para que se torne pior, ou por pura desocupação. Caio (verbo, não pessoa) raramente no lugar-comum de dizer que se os conselhos fossem bons, eram vendidos. Gosto: Da vida que levo. Das escolhas que faço. Do tempo que gasto com coisas tão pequenas que talvez nem façam diferença.
Das pessoas as quais me aproximei com o tempo (ainda que não precisasse haver parágrafo, já que gosto delas também), invariavelmente todas meteram suas opiniões nos meus dias e especialmente nas minhas decisões. O que, mais do que incômodo, me conduz à conclusão de que em uma cidade maior isso não ocorreria. São as cidades pequenas que fazem as pessoas se importarem com outras vidas que não as suas. Ainda há de se considerar a hipótese mais provável: De que a intimidade, - essa pantera! - é que faz com que sintam-se todos no direito de deixar suas pegadas no caminho de quem quer andar por rumos não antes percorridos. Nada sutil, nada sublime, nada discreta, confesso: Quero aprender a não opinar na vida de quem não me pede opinião, quero não ter de ir para uma metrópole para que isso aconteça. Quero ouvir mais do que falar. Amigos, inimigos, desconhecidos... Preciso de bons exemplos! Se importem menos com coisas que não lhe dizem respeito.

“Os românticos e sonhadores, esses que imaginam vidas vagamente inglesas, de paixões contidas, silêncios demorados e gestos escassos mas repletos de significados, preferem a estrada do leste.” (CaioF.)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sobre voltar ao blog, sentir saudades e andar de ônibus às quartas.

Herdei um certo quê de cinismo do primeiro quase-amor que perdi. E algumas vezes é ele, o cinismo, quem me motiva a escrever, ou pelo menos ter vontade. Com ele também me tornei muito mais crítica, o que foi uma pena... Porque eu adorava saber ser doce ainda que com a mais ignorante das criaturas. Há saudades guardadas de algumas épocas da minha vida. Guardadas sem nostalgia. Contudo, se detivesse o poder de voltar ao passado mas não de alterá-lo, o faria? Foi o que pensei hoje, olhando o mundo através da minha janela do ônibus. Aquele. De todas as segundas, quartas e sextas... Pensei também que detesto que me invadam. A intimidade faz com que as pessoas fiquem absurdamente irritantes e isso me incomoda a tal ponto que o caso torna-se, no mínimo, indisfarçável. O que lamento é que eu quem dou essa condição às pessoas: Sou efusiva, inteira e falante, o que as sugere que sou fácil de conhecer. Elas estão certas.



O fato é: Nutro um sentimento curioso e não-nominado por quem arranca de mim a discrição ou lança mão da intimidade por mim concedida como quem nada quer.



Será mesmo, Pitty ? Que só trememos por nós mesmos e por aqueles que amamos?