sábado, 26 de novembro de 2011

Não é orgulho em dizer


Tudo ainda me dói enquanto relembro o repousar de talheres de um jeito bem meu, porque a fome fora menor que o empenho em retirar as cebolas do lanche que o garçom anotou por engano. Também tenho preguiça de ser inconveniente, ali. Não quero comer, quero olhar o prato e ter fome. Muita fome. Uma fome etíope.
Ao fundo, os cantores conversam amenidades e, deixando de cantar, fazem do encontro um lugar agradável para confessar-me humana. Eu não confio em ninguém que diria o que eu digo, às vezes. O cidadão à minha frente parece confiar. Ouve quando eu digo que me sobram os dedos de uma mão para contar arrependimentos. E eu faço tanto.
Não é orgulho em dizer. É querer encontrar na monotonia um lugar de aconchego para, mirando as coisas passadas, querer um futuro igual ao tudo que essa vida já foi. Escolher algo não é ter coragem, não. Ledo engano.
Escolher algo é ser covarde para renunciar os outros temperos que se poderia dar à vida, com um pouco de ousadia - mas bem pouca - em tomar uma decisão. É misturar destemperos e sentir a euforia experimentada de adrenalina com êxtase: Logo eu que não entendo de substâncias químicas.
Agora são duas pernas que não tremem muito, mãos que não soam muito, e-mails que não chegam muito, novidades que não me frequentam muito. Olhos atentos... Mas forçosamente - qual é mesmo a palavra? - já nem sei. Forçosamente eu não sei a hora certa de deixar de insistir, mas finjo.

Queijo colonial me trava a boca quando estou de ressaca. E não espero tomar de lição. Eu gosto muito de queijo.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ter fé e ver coragem no amor


Reaprendi a amar. É tão intenso quanto antes, mas mais devocional que outrora. O amor de agora é Claudia Leitte cantando O último romance de Rodrigo Amarante. Entende? É tudo igual, mas diferente.
Uma fórmula nova de se adaptar com a família e assistir filmes românticos. A mesma fila do pão, um jornal novo. E ninguém nunca diz que é tarde demais ou tão diferente assim. É só amor, ter fé e ver coragem nele. É aprender a história dos Beatles e colar uma figura escrito "Let it be" no celular já gasto. É aprender a comer sanduíche natural e a gostar de guaraná. Outro sufoco para acompanhar. É compartilhar a saliva e o suor. Principalmente a saliva e o suor. Querer andar de mãos dadas. Outra casa pra pôr na sacola. É conseguir olhar outra vez pra alguém com a mesma paixão infantil das cartas românticas e bilhetes guardados, sem medo, com muita vontade. Outras dúvidas, com o mesmo clichê: É pôr foto no porta-retrato e dar selinhos estalados de amor em público pra quem quiser ouvir. Querendo trocar a TV pra levá-lo a qualquer lugar que ele queira. É ter o horário da Taioense com lugar fixo no mural e rir dos atrasos e chegadas em cima da hora. É ser amiga dos cobradores de passagem, adorar aquelas duas gotinhas de Mont Blanc que deixam cheiro de quero mais - ou a camiseta surrada do Arsenal. Sair de casa. Se aventurar... E não tem mais sossego pra nenhum dos dois. Eu me agito, eu me recorto, eu dou outra vez o melhor de mim. Desfaço o nó da gravata e me sinto em casa. Reaprendi a amar.