domingo, 9 de setembro de 2012

Que não repare a bagunça

À esquerda, três blusas desarrumadas porque despidas pela indecisão do que vestir, e uma meia calça de ontem. Um livro, dois códigos, um tablet, folhas impressas, uma calça. Meu celular. À direita, amarradores de cabelo, folhas, um cinto, um estojo, removedor de maquiagem, meus óculos, adesivo de campanha eleitoral, caixa de batom novo, a câmera antiga. Bagunça em cima da estante das bijuterias, dentro do armário. Tem roupa pelo chão. Tem uma pulseira no chão. Tem chinelo e salto alto. Tem uma bolsa no chão. Tem remédio em cima do espelho. Tem maquiagem.
Queria estar de porre, mas tô jogada em cima da cama de qualquer jeito com o notebook no colo, prestes a dormir, pseudo-sã, só assistindo as paredes do quarto limitarem esse pandemônio.

Acho que meu quarto nunca esteve tão bagunçado. 
Nem meu coração.

Deixar uma visita conhecer uma casa muito bagunçada é igual deixar que alguém novo entre num coração que ainda está assim. A gente nunca sabe o que a pessoa vai pensar, e fica mais concentrado na bagunça do que na visita. Não é que a gente não se importe com a visita. E talvez a visita nem se importe com a bagunça. O problema é que a bagunça e a visita duelam desproporcionalmente. Isso porque a bagunça tem larga vantagem, já que se agiganta em tudo e toma conta de cada espaço em branco. Porque a bagunça é contínua, duradoura, requer força de vontade incrível para exterminá-la. Uma força que eu desconheço, principalmente se a visita adivinha a hora errada pra chegar.
A visita quer passar, tem bagunça no chão. A visita quer sentar, tem bagunça ali também. A visita passeia pelo cômodo e faz questão de mostrar que sabe que a bagunça está ali. Que sabe que sempre esteve. Que sabe que a bagunça não vai sair tão cedo. Mas a bagunça não se importa. É provável que a visita se despeça no fim e leve más impressões de enquanto estavam ali, a três. Um quarto ou a casa, bagunça e visita. Eu, a bagunça do meu coração e quem está querendo entrar. Triângulo curioso. Que eu não sei equacionar.
Queria estar de porre, mas tô jogada em cima da cama de qualquer jeito com o notebook no colo, prestes a dormir, pseudo-sã, só assistindo esse músculo comumente responsabilizado pelas confusões emocionais limitar esse pandemônio.

Minha visita tem nome.
Minha bagunça também.
Se a visita recuasse, eu entenderia.
Talvez queira entrar.
E se quiser, por enquanto só vou pedir que não repare a bagunça.