terça-feira, 24 de junho de 2014

O troco

A vida dá o troco. No meio da tarde, no feriado tranquilo, num domingo ameno... Quando menos se espera e desde as pequenas coisas. Cada vez mais me convenço de que esses livros todos dos quais nós tiramos um sarro danado têm toda a razão: a gente pensa que é senhor do próprio destino, mas é a lei do retorno, já escrita antes de nós e independente de nossas vontades, que é deveras implacável.
A gente conta os centavos da bondade e honra o compromisso (ser bonzinho não é fácil), ou a gente exagera na maldade e na arrogância e esbanja material vil. A gente joga cédulas de presunção e empáfia em cima da mesa e acha que está liquidada a obrigação (ser mauzinho é menos difícil). A gente dá em pagamento o bom humor e a empatia quase impossíveis de extrair das asperezas diárias. A gente faz a coisa toda perecer sem mais nem menos e põe culpa num caso fortuito de força maior (mártires que somos). A gente compensa os débitos que pensa que o outro tem conosco e gasta o pouco de sensatez que nos resta - pra nada (consumismo impulsivo das energias alheias).
E depois a gente espera que a vida emita o compromisso de nosso absurdo merecimento das coisas mais maravilhosas. A gente espera o recibo de contas acertadas com um jurinho baixo pelas nossas falhas despercebidas e erros intencionais.
Mas independente da forma de pagamento, a vida sempre dá o troco. Talvez saiba que essa é a única forma de percebermos que pagamos a contento pelos bens e males de todos os dias.