segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Nada a ninguém

Como resistir à vontade de provar ao outro que evoluímos muitíssimo? De que agora somos mais legais, mais politizados, de que viajamos mais, gozamos mais, de que temos mais amigos, mais resiliência e mais dinheiro, menos problemas psicológicos e incomodações e menos ciúmes, de que somos intensamente merecedores de toda a redenção experimentada e que, de modo geral, estamos tão melhores que até parece que recebemos a visita de alguma entidade sobrenatural que pessoalmente compareceu ao mundo dos vivos para nos pacificar, enaltecer e fazer filial!?

Que bom quando tudo isso parece bobagem. Quando se comparar com o outro é tão desnecessário quanto se comparar com uma versão antiga de nós. Quando a gente compreende que não foi mais que o tempo e o seu trabalho natural. Quando abandonamos o "como pude!?" para dar lugar ao "naturalmente não poderia de novo". No mais absoluto silêncio.

É necessária muita certeza de si para não precisar provar nada a ninguém.