Ai que eu sou tão previsível. É verdade o que dizem. Acredita que eu choraria? Eu me descabelaria, eu diria coisas que não são verdade, só porque eu acho profundo essa coisa de escrever quando se está sofrendo. Mas seria tão limitado, tão natural de mim que acabei deixando essas eternidades e infinitos para depois. Eu não preciso. E também não me basto. Isso, isso, você leu bem. Eu não me basto. Parece que me agrada a piedade, as ternuras alheias, o olhar de "a coitada está sofrendo demais". Tudo fica claro, agora. Eu tenho pena de mim. Eu lamento não estar sentindo nada que seria cômodo sentir. Posso até estar leve, enquanto prendo a água atrás da menina dos olhos - e olha que eu nem sei se isso é realmente possível - mas eu prendo. A água, a menina, nos olhos. Quem me encontrar por aí vai notar que eu olho com cara de menina e com cara de quem tá prendendo água atrás dela. Estou prendendo e aprendendo com a leveza que pareço sentir. É tudo o que sei para escrever aqui: Não é bonito sofrer. Bonito mesmo é surpreender.
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