sábado, 8 de maio de 2010

Do sétimo dia após a morte de um namoro

"Por que eu não estava tão sorridente quanto de costume"... Droga, mil vezes droga. E agora? Eu tinha um único artifício, que não me falhava praticamente nunca, e me fazia ganhar tempo: Sorrir. Aquela era uma boa pergunta pra resposta nenhuma. Pra me fazer sair correndo e dar com a cabeça na parede três vezes, voltar pra casa chorando ou quem sabe morder o interrogador e infectá-lo - lá sei eu se esse é o termo apropriado - com a minha raiva em ouvir aquilo. Eu conseguia prever o futuro e a opinião dos críticos: "Teatro mal ensaiado, protagonista confunde comédia com tragédia e não agrada o público (que lhe atira tomates e ovos no final das primeiras cenas)."
Eu não me achava diferente, ou ao menos não me achava diferente pra pior, não achava que qualquer gesto pudesse evidenciar uma fortuita falta de sorriso, ainda assim me vi na obrigação de responder qualquer coisa. Sorrindo, retruquei: "É que eu tô de luto. Uma espécie nova. Mas sábado acaba... Segunda eu tô melhor." Saiu instantâneo, imediato, nem tão curto, nem tão grosso, (outrora inoportuno, agora muito verdadeiro, quase pronto) possivelmente a resposta perfeita. Como se estivesse guardada em algum lugar esperando pra que o primeiro infeliz me perguntasse qual era o meu problema, e então ela saísse de uma vez só. Uma farpa, um espinho, uma graça e uma verdade. Um humor entre o cinza e o negro. Outra vez, uma verdade. Eu não prolongaria, por falta de ânimo, uma coisa que não me fizesse completamente bem. Ao responder aquilo, era quase como confortar meu projeto de mudança pra melhor num lugar quentinho, que o fizesse ficar forte, grande e virar realidade.
Hoje é sábado, oito de maio, o primeiro de tantos que ainda virão. Este é o sétimo dia depois do falecimento do meu finado. É dia de missa rezada a dois, mas mais que isso, é dia de despedida. Quem sabe lhe reencontro um dia desses, finado, quem sabe sigamos por purgatórios mais ou menos disfarçados de prazeres e não vejamos um ao outro tão cedo. No fundo, no fundo, o que será feito na vida eterna pode não importar... É ótimo ser uma "viúva" muito, muito, muito, muito conformada e singular. Afinal das contas, foi quase um homicídio. São sinceras quase todas as condolências que recebo. Hoje é sábado, oito de maio, o primeiro de tantos que ainda virão. Este é o sétimo dia depois do falecimento do meu finado. Do meu nada saudoso finado...

Nenhum comentário: