segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Fantasiosa


Hoje é domingo. Assisti um filme da tv aberta porque ele rimava com a minha frivolidade fantasiosa e criativa de domingo: As crônicas de Nárnia. Estranhei muito não poder pausar a programação. Por muitos anos só tivemos a tv aberta e os comerciais cronometrados me serviram bem, mas aos poucos, nos últimos tempos, acostumei a pausar os filmes, assistir repetidas vezes os meus diálogos favoritos e controlar o ritmo das cenas - Aslam do mundo que inventei pra mim, deusa-leoa da minha cinemania. Só que nos filmes da tv aberta, você não tem controle. Pisca os olhos e perde um tempo precioso que não volta. Igualzinho na vida real.
No fim da tarde, fui dar uma volta e passei por um cachorro. O cachorro não latiu pra mim, como fazem quase todos. E me incomoda que o cachorro não lata, já passo a pensar que ele não me acha exceção, não me percebe direito. Talvez seja só um grandessíssimo problema com o seu instinto farejador, mas passo a fantasiar que, porque não provoco nada nele naquele instante, o cachorro não deve me provocar nada em instante nenhum. Se o cachorro latisse, tudo virava festa. Talvez até me mordesse as canelas, mas quem se importa? Se o cachorro latisse, tudo virava agito. E eu adoro agito. Às vezes parece que os cachorros sabem desse pequeno-grande poder.
Não é estranho? É. Sou eu sendo. Gosto de cachorro que ladra e me desperta da vida, como se fosse brecar o tempo, fonoguiar o próximo passo, estagnar as voltas do relógio, desarmar o tic-tac que o mundo faz, com seu latido. Só que aquele cachorro em especial, aquele cachorro de hoje, parecia conformado com a lógica do tempo e só me assistiu passar.
Como o tempo aceita estampar sua lógica em um trombadinha, que continua sempre a correr da polícia, como o tempo se reafirma em cada dose de Johnnie Walker, que nos aconselha a continuar sempre andando. Como um espectador da tv aberta que desvia sua atenção e perde parte do espetáculo, mas pode reverter a situação caso se detenha no final do enredo.
Hoje é domingo e não tem coesão manifesta ou parágrafo finalizador lógico de raciocínio nesse texto. O tempo segue, o cachorro e eu também. Logo a gente se encontra e ele late pra mim, e eu sinto medo, ou faceirice, ou devaneio e lato de volta. O tempo corre se eu e o cachorro corrermos (atrás ou fugindo) um do outro... O tempo corre se ele latir ou não. Mas é melhor que, desconformado com a vida e desejando atenção, ele lata. Só pra mim.

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