quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Barbies

Sempre detestei barbie girls. Venho lutando para parecer que esta é apenas uma condição e não me atinge, mas eu sempre as detestarei.
As barbie girls são aquelas garotas que a vida toda tiveram tudo e muito, muito mais do que precisavam - tanto, a ponto de não dar o devido valor a absolutamente nada. As barbie girls do meu tempo eram fúteis e combinavam até a cor da calcinha com a cor da meia; mas combinar "o tico e o teco" foi coisa que elas nunca souberam fazer. Tomavam pé de todas as tendências e praticamente nunca sabiam patavinas das tabuadas como a de 7 ou 8. A conjugação de verbos apropriada, então, era artigo de luxo para as que perderiam algum benefício caso tirassem notas baixas em língua portuguesa. Sentavam-se sempre nas carteiras do meio e eram muito cheias de não-me-toques. Populares, e em geral muito comportadas, atraiam olhares dos belos e seus cabelos irretocavelmente lisos ou irretocavelmente crespos eram de admirar pelo tamanho, brilho e maciez. E elas se admiravam nos seus espelhinhos cor-de-rosa com um amor-próprio de dar dó.
Quase nunca abriam a boca para contatos com o mundo dos nerds que queriam algo da vida, o que era uma sorte, porque se regurgitassem toda a purpurina que abrigavam no lugar onde deveria haver um cérebro em parcelas muito grandes, isso teria sido letal para mim.
Mas, como todos os seres devem evoluir - ao menos em idade - as barbie girls do meu tempo cresceram. E que desgraça sem tamanho parece ter ocorrido! As barbie womans continuam se achando o umbigo do mundo com uma porção de neurônios a menos do que um jumento - embora eu não esteja certa de que os jumentos possuem neurônios. Algumas entraram na faculdade e ignoram o fato de que seus pais ainda lhe concedem mesadas generosas para fazer sabe-se lá o quê, ou realmente sabe-se: Comprar suas roupinhas combinantes para sair de casa todos os dias como se o destino fosse a Fashion Week. São adeptas das filosofias "sua inveja aumenta o meu ibope" e "estilo, ou você tem ou você tenta" e "gostou? papai e mamãe que fizeram". Em síntese, são um nojo de pessoa e me deixam nauseada.
Daquele comportamento cheio de sorrisinhos forçados elas herdaram uma capacidade de dissimular timidez e humildade, dos olhares dos belos um narcicismo do tamanho de sua futilidade, e os cabelos provavelmente receberam se não tintura loira, escova progressiva. E eu não haveria de me esquecer: Seus acompanhantes, namorados ou mesmo amigos são os caras mais babacas de que já tive conhecimento (os "kens" - que renderiam outro post como esse), mas não é para menos... Para aguentar os ataques de birra ou ciúmes de uma barbie woman, só mesmo tendo uma ervilha verde e pequena na área reservada para o pensamento. Algumas agora se acham rebeldes - o que é capaz de justificar as péssimas notas e raciocínio lento para assuntos de exigência das capacidades mentais. Elas querem "curtir" e nas festas estão sempre com cara de chata e nariz empinado, mas deslumbrantes. Não pagam imposto para se aborrecer e fazer dengo para irem pra casa antes da meia-noite.
No fundo, no fundo, poucas me tiram do sério (salvos os casos de quando elas se reconhecem a quilômetros de distância no corredor e saem falando das próprias roupas). Na verdade, eu tenho mesmo é inveja - logo, faço o ibope delas às avessas - inveja desse jeito de ser mimada onde, para sempre, o universo acabará na última página do catálogo das marcas famosas ou na compra do primeiro exemplar do lançamento do que quer que seja - relacionado à moda, claro, porque dos livros, de verdade, elas não se agradam. O mundo deve ser mais leve para elas, mais simples.
Ainda ontem tive de enfrentar uma barbie girl crescida. E como são presunçosas! De fato, não sei que componentes químicos causam satisfação às pessoas que convivem com as barbies, sei apenas que não os possuo. Também não tenho vocação para ser amiga de alguém que pensa que quebrar uma unha tem relevância muito acentuada. Enfim, sou uma barbie completamente ao contrário e me orgulho de ter um humor que oscila, bem como antipatias à primeira vista, conteúdo. Me orgulho de ter um número maior de argumentos do que de sapatos, me orgulho de ter algumas preocupações que transcendem os ditames das passarelas. Porque morro de medo de ser confundida com elas.

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