sábado, 9 de outubro de 2010

Escrever e Vomitar

Vomitar. Palavra feia. Mas já falei de ser mosca, não me custa falar sobre vômito. Escrever é muito parecido com vomitar. Repito isso há dias. Es-cre-ver é como vo-mi-tar. Digo porque vai-se embrulhando o estômago e os sentidos até chegarmos em um ponto de uma espécie de náusea tonteante a qual, enquanto não se escreve, engasga-se feito azeitona de empada entre a faringe e o esôfago! Cada um reage de um jeito. Eis algumas das maneiras mais habituais: Ou vomita, ou se acomoda, admitindo que não é tão ruim ter uma sensação de desconforto dentro de si. Há também, por conseguinte, aqueles que engasgam pra nunca mais desengasgar. Ou ainda os que nasceram engasgados e assim morrerão.
Aos vomitadores de plantão, afirmo que compadeço do distúrbio, como bem se nota. Primeiro vem a ânsia, e depois a constatação de que os componentes do alimento não poderão ser digeridos com facilidade. Danou-se, preciso vomitar e reestabelecer a sensação de alívio do jejum. E mastigamos mal tanta coisa... Impossível não reparar. Sorvemos inteiros, como água, cotidianamente, os pedaços gigantes de coisas de outros. Comemos coisas de outros e seu gosto parece razoável. Por isso, embora não me orgulhe, considero que é impossível vomitar algo cem por cento nosso. E mais... Raras exceções, você sempre olha para as porções de bolo alimentar com suco gástrico e sente vergonha por ter posto aquilo pra fora. Vezenquando chega a negar autoria de assombroso comportamento. Vomitar pode parecer feio. Eu - para ser franca - só não sei é como alguém pode sobreviver, nos dias/noites/madrugadas de hoje, abstendo-se da bulimia de redações, do regurgitar quase imediato. Acho válido objetar. Alguns dirão que sou caduca e os caducos como eu concordarão:
No vômito e na escrita, você mira no impossível e lança (habitualmente) algumas parcelas que se convertem em uma. Para se sentir limpo, aliviado, livre, novo. Lança torcendo para que o odor não seja de todo ruim, ou, quando seja, não fique impregnado em você, nos outros. Para que ele não tenha efeito "vinculante" sobre seus próximos vomitares. Mas não adianta! Quando não fica o cheiro, fica o gosto. Quando não o gosto, o esgoto lembra. Alguém sempre lembra. Vale memorizar.
E é por esta e as outras que escrever, para mim, hoje, é como vomitar. Pode se esquecer do quando, do onde e do como... Nunca do por que.

2 comentários:

Um brasileiro disse...

Oi. Estive aqui. Interessante. Até concordo com você. Apareça lá. Abraços.

Eucio C. Luchtenberg disse...

Ótima definição. Aos caducos então! ;)