quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Uma madrugada doentia e um (breve) relato meramente desnecessário

De saco cheio. Expressão que designa um estado psicológico de falta de ânimo frente à necessidade de insistência em determinada ação.

- ópera -

São quase duas da manhã e todos dormem. Estou estudando para uma prova de Psicologia Jurídica. Fiquei impressionada com as últimas notas abaixo de nove e decidi me doar pra valer a esse negócio nomeado faculdade, o que inclui passar madrugadas "em claro". Até o fim do semestre quero retomar os dez'es com três ou quatro estrelas a que estou habituada, por meritocracia (como andam dizendo os políticos) e, enfim, a dedicação faz parte desse show. Mas, meu caro, antes este fosse o motivo do post. Só que: O problema é bem outro. Estudando para a minha prova de logo mais à noite, descobri que estou doente. Muito doente. Chama-se transtorno de personalidade limítrofe, ou Borderline. Preencho muitos critérios do texto imenso que consta na Wikipedia. Diria boa parte das frases citadas lá como "Pensamento Borderline", se você quer mesmo saber. Isso é sério. Oscilação intensa de humor. Má conduta. E, alguns parágrafos abaixo (nem cheguei à guia "Tratamento") descubro um agravante: Transtorno de personalidade histriônica. Lá vem a Wikipedia relatar, com precisão, muitos dos meus sintomas. Agora já são duas doenças. Começo a tossir sentindo a imunidade debilitada. E digo mais! O hyperlink "Narcisista" constou do estudo. E eu via a minha cabeça no corpo do Hermafrodita de Mazarini, logo depois de ler que isto também é um estado patológico, e não mera condição. Volto à pagina inicial. Google e a imagem em comemoração ao cinquentenário dos Flintstones. Digito "Freud pai da"... E agora? Psicologia ou Psicanálise? Vacilante, deleto tudo e escrevo outra vez: Só "Freud", nesta última. Inovações-divã-cocaína. Até aí, ainda que ok. Ok o que? Libido não tem acento? Nunca precisei escrever libido em editores de texto com correção ortográfica. E os humanos nascem polimorficamente o que? Perversos!? Chega de Freud. Já estou doente mesmo... Não quero saber que nasci poliformicamente... Droga. É polimorficamente. Você entendeu. Google. Gestalt. As figuras dos slides da professora convidando a clicar em imagens. Resisto. Wikipedia. Psicologia da forma. Wundt. "Uma cadeira é mais do que quatro pernas, um assento e um encosto." What? Não me venha com imagens subliminares. Quero estudar para a minha prova. Lembrei da caixa dos ratinhos. Skinner. Behaviorista. Eita palavra difícil de encontrar pronúncia pacífica! Não sei a origem dela. Anotação mental: Procurar origem geográfica do Behaviorismo. Enter. O que? Esse cara se chama Buhrrus? Assim, tão parecido com burros? A fonte etimológica é mesmo fundamental. Anotação ao lado de "Procurar origem geográfica de Behaviorismo" = Importante. Muito bem. Podemos prosseguir. A vida de Skinner. O cara se confessou rebelde declarado no último ano de faculdade? Não acredito. Prossegue. Elementar, meu caro Watson. Behaviorismo tem tudo a ver com o tal do Watson. Vou precisar lembrar disso na prova. Seguida. Experimento com pombos. Esses caras realmente acham que vão entender sobre mim por um experimento com um pombo!? E, mais do que isso, a professora disse que a caixa era com ratos, não mencionou penas e asas. Descoberta importante. A caixa de Skinner tinha luzes e comida, e pombos. Críticas. Referências. Ver também. Hm, ver também com link para Behaviorismo parece adequado. Clica. Termo americano, termo inglês. Comportamentalismo. Parece mais fácil de lembrar, apesar das dezoito letras, se é que a minha matemática está funcionando. E introspecção é um bom termo. Para relacionar a psicologia, por exemplo. Ok. "Abandonar, ao menos provisoriamente, o estudo dos processos mentais para o comportamento observável". Vamos encarar a casquinha como objeto de estudo em detrimento do recheio. Arriscado. Neobehaviorismo mediacional. Nome complicado. Coisa pra psicólogo. Pula o item. Um rato sabe o caminho para o alimento em uma caixa de Skinner. Ratos ou Pombos? Questão controversa. Maldita fonte de pesquisa. Amaldiçoada seja a democracia wikipediana. Vou pela professora, que falou em ratos. Mas acho que ela disse acho. Acho que eram ratos. Parece tão confiável quanto a Wikipedia. Que seja. Google. Olhadela na tela de contatos do msn. Interessantes offline, interessantes com status "dormir", interessantes... Prova de Psicologia. Bipolar. Sempre quis saber mais sobre isso que eu digo que sou toda hora, sem diagnósticos. Digito. Dessa vez, o primeiro resultado é um site novo. Psicosite. Parece ruim. Imagem mal editada. Anúncio de um livro sobre Transtorno Borderline. Lembro da minha doença e as pálpebras pesam, talvez por isso. Leitura. "Provavelmente nos próximos anos surgirão novos subtipos de transtornos afetivos". Raios. Já não me basta ter de estudar tão adoentada, e nos próximos anos o meu conhecimento estará obsoleto? Ninguém merece. Bipolar não é o que eu pensei que fosse. Insistirei em usar o termo a meu modo subjetivo, em todo caso. Espiada na caixa de entrada do Gmail. Nada. E quem seria louco psicologicamente transtornado de me enviar um e-mail às quase três da manhã de uma quinta-feira como essa? Por quê? Nem Freud explica. Maldita libido sem acento. Ctrl+Schift+N. Janela anônima do Chrome. Qualquer novidade a respeito... Nada. Tentativa frustrada. Eu te odeio, não me abandone. Pensamento Borderline. Alt+F4. Google. Psicologia Moderna. Termos gregos. Muitos. Personalidade. Depressão. Comportamento. Mais do mesmo. Resumão da madrugada. Estruturalismo. Funcionalismo. Perspectiva. Perspectivas. Alcanço o caderno do criado-mudo. Acho o termo criado-mudo estranho. Abro. "A psicologia surge com as ciências humanas para examinar, medir, analisar e classificar os diferentes dispositivos organizativo-administrativos que individualizam os homens - seres sensitivos, perceptivos, emocionais e volitivos." Não entendi nada. E acho que vou vomitar. Deve ser a doença. Revisando Galton, Lombroso e Pinel. Google. Pinel. Bingo! Há relação entre o termo vulgar, no Brasil, e o sobrenome do cara. Como era de se esperar. Google. Patologias psicológicas. Brasil Escola ponto com. Susto. Já tive oito das catorze patologias citadas. Ou pelo menos achei que tive: Ansiedade, Bulimia, Claustrofobia, Depressão, Doenças psicossomáticas, Hipocondria, Histerias, Neuroses, Síndromes maníacas, Transtorno bipolar. Pera aí, são dez. São dez, algumas no plural, acrescidas das já detectadas ao longo deste aprofundado, meticuloso e imparcial estudo.

- resumo da ópera -

São quase quatro da manhã, agora. Talvez eu sobreviva até a próxima noite para responder questões discursivas
, talvez não. Talvez surte de vez, tão enquadrada em tantos posicionamentos teóricos contrários que eu estou. Wundt, Watson, Galton, Skinner, Lombroso, Freud-pai-de-todos, o mindinho e até o fura-bolo. Estes e todos os outros. São muitos os transtornos que eles criaram para mim, e inclua-se na lista a bendita prova que - no auge das minhas enfermidades - parece agora insignificante. Ironias à parte eu descubro, para me repetir nas metáforas, que estou para a Psicologia Jurídica (e para todas as infinitas outras áreas de atuação de um psicólogo) como um cavalo marinho está para o deserto.
Destarte, me fecho para toda teoria. E abraço. Minha idiossincrasia.

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