sábado, 15 de agosto de 2015

Comichão


O que no sangue chama o pernilongo? A cor, o cheiro ou o mistério? O que por trás da pele é tão irresistível? Essa atração instintiva é extrato perfeito do enigma da cisma.
Um mosquito pica o meu dedo do pé. É uma picada minúscula e incômoda. Eu roço o pé no cobertor e é como se recuperasse a vontade de viver por uns segundos, já que nunca fui das que deixam um inseto pousar no nariz ou onde quer sem me agitar os sentidos. Afinal, mais um ser humano como tantos na face da terra: eu sinto muito, demasiado. Eu sinto tudo. E reconheço o quanto arde o que não deve arder. A manchinha rosada que aparece uns segundos depois do contato é uma vergonha ao contrário.
Dedo do pé. Quando um mosquito assim pica a gente, é sempre o meio inalcançável das costas transportado para os recantos do corpo. A gente se debate, mas não faz mais que espantá-lo ou colar o próprio sangue na parede. Abandona uma parte de si sem o mosquito consultar a gente, pedir licença ou deixar credenciais. O despertar para o tapa é sempre tardio. A picada não volta atrás. Arde o comichão, não há antídoto. Esfrego álcool, um creminho perfumado, mas ainda arde.
Eu não entendo esse comichão. Eu não entendo ou me conformo, mas reconheço a tranquilidade pela coceira que ela dá quando vai embora.

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