domingo, 17 de fevereiro de 2013

Sempre mereci


Meia hora de chuva, formou-se uma poça entre o meio-fio e a estrada de paralelepípedo. Cada gota que caía ali depois disso dava causa a um fenômeno comum, mas muito interessante: Uma ondinha minúscula e uniforme que partia do centro às bordas, em círculo, até que a próxima gota caísse no tempo exato, de um jeito que a física saberia explicar muito melhor do que eu. Mas não saberia sentir. Pra mim era uma bonita epifania.
Em seguida deu-se início a outro fenômeno, o mais revigorante do universo... Eu percebi que o tempo começou a passar. Noventa e poucos minutos pro Flamengo vencer o Botafogo. Quarenta e oito horas de sossego nesse fim de semana e sobrou espaço pra sentir o vento de antes da chuva enchendo os pulmões com um ar frio que parecia novo. Catorze dias e o medo se esvaiu, vinte e um dias com hormônio em equilíbrio e as minhas costas já estão praticamente limpas, trinta dias e eu engordei os dois quilos que tanta gente disse que me cairia bem, quarenta e sete dias e as cicatrizes do joelho começam a desaparecer, quatro meses e a famigerada unha do pé já dá indícios de voltar ao normal, oito meses e a distância, se não me parece exata, é ao menos cada vez mais compreensível.
Se é verdade que tudo leva um tempo e cada coisa tem o seu, eu levarei o meu com a graça da canção de Caetano. Terei o meu tempo com um sorriso matematicamente obtuso e aquele cuidado gentil que sempre mereci ganhar de mim.

Nenhum comentário: