quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Manual da nem tão secreta subversão

"As relações têm que ser erotizadas, não tem nada menos erótico do que  passar o tempo todo tentando agradar, tentando ser perfeita".
Sarah Oliveira em entrevista à Milly Lacombe. 
Revista TPM (#112 - agosto de 2011). Disponível aqui.


A mesma chuva que se detesta é certamente obra das mais sutis no rol das invenções de Afrodite. Nem aos que a repudiam, se trancados a dois, ela importa ou importaria, não fossem as convenções.
Quase tudo faz parte desse rol, pelo que, momentaneamente, ateia-se fogo às meias palavras e desanda-se a confessar que o olfato é e tem sido traidoramente lascivo. Porta de entrada a uma intenção que beira o irreprimível, como o são alguns dos beijos demorados, os dedos pressionados com imprecisão pela nuca e a firmeza imprescindível no trato com toda a cintura. É o propósito da epiderme arrepiando na velocidade da luz, num contato quase osmótico de tão imaginado.
Escancarada, a excitação pode parecer patológica. Isso porque as volições dessa ordem, impetuosas, desconhecem absolutamente todas as regras. E estampam uma expressão travessa não só no rosto, mas no corpo inteiro, ao menor sinal de correspondência. A espécie mental do gênero malícia não pede licença, porque a vontade instintiva nunca tem bom senso e, por incrível que pareça, vai infinitamente além de decotes, músculos e duplos sentidos.
O desejo é o processo natural que os tabus, o orgulho e o moralismo sabem esconder melhor. A ponto de inviabilizá-lo, se não forem tomadas as devidas precauções de se permitir ser secretamente dissoluto. Dissoluto vez em quando, dissoluto vez em sempre... Cada um tem a medida exata de sua própria depravação e do quanto a vela.
É do desvelo que nascem minhas insinuações da vontade (in)constante de um prazer praticamente conhecido, nesse Cântico dos Cânticos, que é manual intimamente devassado - secreto, na medida de sua publicidade - para minha conexão com o que, de tanto tentar, já não evito. Guia pouco prático, nitidamente degenerado, tanto quanto minha (sub)versão menos desinteressante.

Um comentário:

Anônimo disse...

E isso explica porque o sexo
É assunto popular...