sábado, 13 de novembro de 2010

Sexta-feira quase 13

Estive adiando a hora de escrever isso. Estou adiando. É agora. Amo essa expectativa. Detesto o gosto de estar entregue. Ninguém é capaz de mensurar com palavra a minha vontade de gritar. São dez pra duas. É quase três. Sexta prestes a virar sábado. Já virou. Mas tá longe de ter sol. Deu vontade de escrever, porque escrevendo é quando mais me entendo. Tem cinco verbos novos no meu vocabulário, que não me deixam em paz. O que não me deixa em paz é um certo moço. E o seu rosto. A ponta do anelar, da primeira dobra, me toca o lábio superior. Sinto o cheiro de quem nunca abracei. Temo, lacônica. Temo perder a propriedade do contrato artificial, que não fiz. E não sei a que vim sem querer desvendar onde estarei. Engana-me o frio na barriga, ou consola? Ameniza. Todo dia, um novo tom. Ai de mim. Toda hora, um novo tom. Com quanta impulsividade se faz uma alegria? Com quanta euforia contida se faz uma mulher de fibra, que conquista? Queria me deliciar da descoberta. Percorre-me um leve arrepio da madrugada, frio, qualquer coisa entre os tornozelos e os joelhos, os cotovelos e os punhos e a nuca. Solitária e insólita. Sorrateira. Secreta. Sinto um pouco de medo de existir, a meu modo.

***

Eu cansei de ser assim / não posso mais levar / se tudo é tão ruim / por onde eu devo ir?
A vida vai seguir / ninguém vai reparar / aqui neste lugar / eu acho que acabou
Mas eu vou cantar pra não cair / fingindo ser alguém / que vive assim / de bem
Eu não sei por onde foi / só resta eu me entregar / cansei de procurar / o pouco que sobrou
Eu tinha algum amor / eu era bem melhor / mas tudo deu um nó / e a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia / manda essa cavalaria / que hoje a fé me abandonou.
Los Hermanos

Nenhum comentário: