O telefone tocou 9h e eu lembrei logo de Cinderela... E de nossa conversa de ontem à noite. Impossível que minha amiga já tivesse novidades... Sim, eu sou amiga de Cinderela e, sabe, essa menina é estranha. A fada-madrinha da Cinderela que eu conheço entrou no efeito reverso e caiu no sono profundo da Bela Adormecida. Se esqueceu de entrar em ação. Veja você que a coitada ficou desmadrinhada, um show de azar, medido pela vez em que se despediu de um príncipe e ele virou um unicórnio... O que, na prática, não significa muita coisa, porque Cinderela é uma princesa singular.
Também beijou uns dois lobos maus, e um sapo que não se transformou. Mas esse histórico é muito breve e não convém ao que quero lhes contar. Minha conversa de ontem foi bem mais interessante: Ela me contou que resolveu levar outra vida. Se libertou da madastra, que salvo engano se chamava Saudade, e está prestes a se apaixonar pelo irmão da Barbie. E que ela está se divertido muito com essa situação. E que ele quer seduzi-la.
Gargalhei com gosto da impulsividade de minha amiga e das confusões nas quais se mete. Perguntei se Cinderela estava ficando maluca. Ela me respondeu que já havia conhecido muitos personagens, tantos quantos nem sabia se lembrar do número, e que, infelizmente, havia se decepcionado com a maioria. Era hora, portanto, em seu raciocínio, de dar chance para o inesperado e... quem sabe... perder o sapatinho em lugares novos. Assenti sorrindo, invejando sua disposição em se apaixonar. Admirei C de Cinderela, sinceramente, sem modéstia. O brilho em seus olhos e o sorriso cheio de dentes parecia indicar que era tempo de confiar nos próprios feitiços.