quarta-feira, 11 de julho de 2012

Um insulto ao que é raro

- Se eu pudesse te dar dois conselhos, seriam eles: 
Compre uma jaqueta nova pra usar amanhã à noite.
E nunca mais leia históricos de conversas no Facebook.

Era sexta-feira e eu sorria ainda muito desajeitada. As mães prescindem ladainhas introdutórias e não é necessário apresentá-las demoradamente - apenas sabem de tudo, todo o tempo, e também por isso são tão admiráveis.
Não é preciso ser mãe pra perceber que resmungo os restos, aos poucos, parafraseando aqui e ali o que já não faz sentido. Mas quando foi que deixou de fazer? Nem digo "aonde foi" ou como foi - não sou tão pretensiosa. E não ouso esclarecer que se eu soubesse haver um lugar, era lá que eu teria ficado, sem precisar de uma jaqueta, de coragem ou de conselhos.
Domingo respiro fundo o todo que sobrou, feito viciada. O todo é pouco, mas ainda inebria. A cada movimento da expiração, solto mais um pouco desse todo diretamente de um dos meus órgãos vitais. 
Começa a chover... Os dias de chuva inundam até o que é raso, e as noites, então, é melhor nem lembrar. Ao menos, o que era forte vai esmaecendo e ficando débil. Pusilânime. Pu-si-lâ-ni-me. Palavra bonita com esse significado medíocre. Esse adjetivo desqualificador do que um dia foi certeza e enfeitador de tudo que ainda é dúvida.

As fotografias somem das minhas paredes, novas fotografias aparecem nos murais. São tão opostas, mas tão iguais. Talvez não passem de um insulto ao que é raro. Pro impropério ser completo, surgem outras bocas. O gosto delas é neutro e é um só: O da vontade de continuar sem se arrepender.

"Cláudia fecha os olhos e vê-se uma vez mais nos braços dele. Quantos homens a amaram com eficácia e surpresa e originalidade, depois? Todos. Um cardápio de homens dignos (...) simpáticos, sensíveis. E Cláudia a fechar os olhos (...)". 
(Inês Pedrosa in: A instrução dos amantes, p.163)

Nenhum comentário: