sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Aos vinte

Estou às vésperas de completar vinte anos. Embora eu saiba que a data comemorativa significa apenas um marco convencionado, embora eu saiba que estou longe do ápice da boa forma de um adulto (como diz um texto que eu gosto bastante), eu jamais estive tão perto de uma vida com responsabilidades de verdade, maturidade e aprendizado com os erros.
É bem verdade que eu desejaria ter aprendido muita coisa antes do que aprendi. Alguém poderia muito bem ensinar às crianças que as coisas ruins tem a importância que damos a elas, mas só as experiências e decepções da vida adulta fazem isso por nós. Gostaria de ter aprendido antes que um contato inesperado pode livrar o peito de uma amarra cruel, que uma frase de efeito impensada pode ser o que distancia uma ponte de um abismo. Eu desejaria ter sabido desde o início que o mundo anda cheio de gente magoada o bastante pra merecer todos os gestos gentis, o mais repetidamente possível.
Poderia ter ficado tranquila por mais tempo por saber que absolutamente ninguém é perfeito o tempo todo. Eu me cobraria menos. Chegamos na fase mais adulta de nossas vidas percebendo que alguém podia ter ensinado às crianças que o mundo lhes dá informações demais e compreensão de menos, e que somos solidários a isso. Que também dói em nós que toda decepção depois das insistências descabidas pareça, no final, ter estampada em si um sonoro "eu te avisei" - e com a nossa própria voz. 
Eu desejaria saber desde os primeiros anos da minha vida que somos todos muito parecidos, mas que algumas pessoas são mais calejadas do que outras, o suficiente pra ter algo por dizer pra que aprendamos com elas, a fim de não sofrer desnecessariamente. Mas a verdade é que, uma vez mais, em matéria de aprendizado na vida adulta, só as experiências valem ouro. Todo o mais é metal precioso de improviso.
Eu já sei agora que a prática é o melhor dos discursos, mas até isso acontecer falei muita coisa que deveria ter calado e calei muita coisa que poderia ter gritado. E continuo falando e calando, nem sempre nos momentos apropriados, porque a vida é uma repetição de erros que quase sempre pretendem ser acertos, num processo que nunca se completa.
Eu não compreendi todas as pessoas como elas gostariam, nem agi de acordo com o que seria melhor pra todos, porque pra crescer é necessário amor próprio e, às vezes, amor próprio implica em um pouco de egoísmo. Mas lembro de praticamente todos os nomes de quem me estendeu a mão, me fez sorrir, me ouviu com atenção. E exercito, da melhor forma que posso, a gratidão poderosa dos gestos da minha mãe e a generosidade despretensiosa dos gestos do meu pai.
Eu tô chegando aos vinte anos com um conjunto nem sempre harmonioso de partidas necessárias, conselhos não ouvidos e eventos repentinos de tristeza nostálgica e alegria esperançosa. Sem saber muito bem como desapegar das coisas e das pessoas, continuo caminhando, insistindo em fórmulas que funcionam, ainda que elas requeiram um tanto de sacrifício.
Eu tô chegando aos vinte me deixando mais em paz. Vai ter amor pra quem merecer, fé para o que precisar de fé. Eu tô chegando aos vinte acreditando - com todo o coração que ainda me sensibiliza, todos os ossos que me sustentam a contragosto das quedas, todos os músculos doloridos da academia e todas as esperanças renovadas - que sempre há espaço na vida pra se reinventar quando as coisas não derem certo.
Eu tô chegando aos vinte anos cheia de defeitos. E de disposição pra convertê-los em virtudes. Reclamando menos. Coerente com as minhas contradições e contrariedades. Motivada, leve. Com menos culpa e mais inspiração. Eu tô chegando aos vinte anos descobrindo como quero ser a cada dia, pra vida inteira. Com motivos de sobra pra desejar - com alegria, clichê, otimismo e peito aberto - quantos vinte anos mais a vida quiser me proporcionar.

Um comentário:

Thay Almeida disse...

Meu anjo,

Os vinte nos trazem muito mais responsabilidades do que possas imaginar. E muito mais conquistar também!
Desejo que todos os obstáculos transformem-se em aprendizado. Que todas as quedas transformem-se em caminhadas cada vez mais rumo ao topo. E que todos os dias, você continue sendo assim, tão linda, tão cativante, tão inteligente, tão honesta. Intensa e verdadeira.
Sendo exatamente essa Cau, que nos enche de orgulho e faz ter mais certeza de que Deus não poderia ter nos colocado em uma família mais abençoada do que a nossa!

Te amo. Sou sua fã e sua amiga, para todo o sempre.

Thay.