sexta-feira, 1 de março de 2013

Éramos quatro

As partes desse texto encaixaram como quebra-cabeça, muito reveladoramente, aos poucos, na minha própria cabeça. Tanto, que é quase um pecado tentar escrevê-lo em meias palavras, mesmo tentando ser fiel às ideias originais. Mas insistirei.


Esse semestre eu tenho apenas duas professoras mulheres. São ótimas. Uma delas me tomou por ponto de referência e olha sempre nos meus olhos pra dizer as coisas mais importantes. A outra me ignora reiteradamente e com veemência, por mais que eu procure contato. Sabe-se lá o motivo. As duas prendem minha atenção pela imponência, merecem a doçura do meu respeito, mas só a primeira tem o meu interesse sincero pelas aulas.
Eu sempre nutri uma predileção por quem me olha nos olhos. Acho isso muito natural. Decorrência lógica da busca humana pela atenção e pelo reconhecimento. Olhar nos olhos é se permitir enxergar, pelo preço de ser enxergado. Olho no olho é a oportunidade mais sagrada de provocar interesse. Por uma tese, um comportamento, pelo momento platônico de uma identificação que, no âmago, sabemos, só parece ideal. Qualquer interesse, seja lá do que ele nasça.
O interesse é vulgar. Mas a relação empírica entre a experiência e o conhecimento não dá conta de explicá-lo. Se pudéssemos, escolheríamos a dedo os comportamentos a serem transmitidos para provocar interesses certos das pessoas certas no momento certo, sem maiores encrencas. Pra não ter que nos livrarmos deles. Pra não ter de partir de uma vez em vez de ser partida aos poucos.
A essa hora, por mais dois parágrafos, ainda somos quatro, calados e sonolentos, enquanto grito pelas palavras, revogando artigos do meu próprio código de conduta, ao tipificar que sou a única da qual não abrirei mão. Segue sendo um desafio supor que a distinção é que provoca o interesse. Mas se o interesse certamente acentua a distinção, como propõe Exupéry na máxima de que foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante, o mais seguro é não perder tempo com interesses repetidos. Disso tudo, eu já vivi. De um modo que eu não sei exatamente como explicar sem me denunciar, mas já vivi. Intuo não querer outra vez em dose tripla.
As escolhas e as renúncias se encerram, tímidas, tergiversando qualquer caminho que pudesse soar duro e certeiro como a objetividade de quem se confessa interessado. Porque aprendi qual minha fase preferida do interesse mais excitante, e ela é curta. Precede a insônia. Parece não resistir ao ato seguinte de olhos que se dão conta do cruzamento entre si. As minhas desistências, intuitivamente, parecem parafrasear Caio Fernando: Estou cansada de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis.

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