Não vou lutar contra o que eu sinto
Vou me entregar como um soldado cansado e faminto
Não vou lutar contra o que eu sinto
Porque a verdade explode cada vez que eu minto
Não posso mais viver em conflito
Não vou negar o que é tão claro
Vou me entregar em tudo que eu faço
Em tudo que eu falo
Não vou negar o que é tão claro
Porque a verdade explode
Mesmo quando eu me calo
(Não vou lutar - Titãs)
Vou me entregar como um soldado cansado e faminto
Não vou lutar contra o que eu sinto
Porque a verdade explode cada vez que eu minto
Não posso mais viver em conflito
Não vou negar o que é tão claro
Vou me entregar em tudo que eu faço
Em tudo que eu falo
Não vou negar o que é tão claro
Porque a verdade explode
Mesmo quando eu me calo
(Não vou lutar - Titãs)
Agora é o outono. Sei disso porque sou boa o suficiente em matemática pra conhecer o resultado de doze meses divididos por quatro estações. Já se foram as semanas necessárias desde que o verão deu as caras. Soube que o outono chegaria quando comecei a fazer contas e planos pra ele. Mas saberia, de qualquer forma, quer pela dor de garganta e os indícios de resfriado que apareceram bem cedo, quer pela necessidade de sair da cama e buscar mais coberta pra conseguir adormecer tranquilamente aquecida.
Encerra-se a estação mais quente - que aquela marca de cerveja chama de estação da perdição nos comerciais, se a memória não me falha. Com razão, dessa vez. Meu verão foi intenso o suficiente pra fazer com que eu me perdesse, do início ao fim, embora raramente beba cerveja. Meu verão foi marcado por conquistas e reconquistas e desconquistas de coisas e pessoas bem e malquistas. E encerrou em si mesmo os planos sem razão para as próximas estações.
Foi o verão que me assistiu deixar os ombros à mostra e as coxas de fora, um palmo ou mais acima do joelho, em dias ou noites escaldantes que fizeram que eu comprasse um novo óculos de sol e um copo rosa de neon, conhecesse a chopperia de Lontras e a frente do Parque Botânico. Fez com que conhecesse One Day, Meia-noite em Paris, Vanilla Sky e, mais recentemente e em especial, 500 dias com Summer. E eu me conheci, num dos maiores sustos de que tenho lembranças, sob o sol da primeira e última estação do hemisfério sul.
É bem verdade que algumas coisas duraram mais do que o verão merecia. Mas foi nesse mesmo clima que eu dei adeus a uma parte da minha irresponsabilidade e vi o segundo dente do juízo rasgar a carne, pra que as frações de tempo que me aguardam sejam encaradas com a sabedoria necessária. Ou, ao menos, com mais sabedoria do que já as enxerguei.
O verão viu cair a unha do pé que a primavera deixou roxa e observou nascer o trauma dos calçados abertos. Este mesmo verão que foi palco da inédita vez que andei de carona em um quadriciclo, da noite inédita em Balneário Camboriú sem-pai-nem-mãe, das inéditas cólicas misteriosas que me fizeram vomitar de dor, do inédito clichê "nem sabia que era possível vomitar de dor" e da descoberta da inédita pedra-nos-rins-de-três-milímetros-que-faz-vomitar-de-dor.
Sou grata por tudo que o verão levou embora mas, mais que isso, pelo que de encantador e enigmático me trouxe. Uma literatura inesperada, elogios que pareceram incontidos, bijuterias, trufas e tortas de frango, conversas a serem esquecidas, beijinho de quando se tem nove anos, seduções disfarçadas, banco de carro, sonhos esquisitos, projeções dilaceradas, miojos e caipiras na sexta-feira. Festas. Bolhas nos pés. E cantorias, no sereno ou não, vendo nascer os dias seguintes.
Cada estação é dona de suas próprias possibilidades. Se a que passou era a da perdição, que a que chegue seja a do encontro. Não o encontro do que foi perdido e dificilmente encontrará o caminho de volta, mas de tudo aquilo que aguarda e espera por mim, que já está escrito, se é que algum destino se escreve antecipadamente. Do contrário, que eu saiba escrevê-lo.
Que o outono seja um circuito a duzentos quilômetros por hora em que tudo que exista de verdadeiro e de melhor corra ao meu lado, e que o que peca pelo excesso, pelas mentiras e re-mentiras, pela mornidão ou pela dúvida não me alcance. Que as surpresas me ultrapassem só pra me ver passar de novo, na efêmera circunstância de quem está sempre desesperado pela entrega e para a satisfação de atravessar etapas.
Foi o verão que me assistiu deixar os ombros à mostra e as coxas de fora, um palmo ou mais acima do joelho, em dias ou noites escaldantes que fizeram que eu comprasse um novo óculos de sol e um copo rosa de neon, conhecesse a chopperia de Lontras e a frente do Parque Botânico. Fez com que conhecesse One Day, Meia-noite em Paris, Vanilla Sky e, mais recentemente e em especial, 500 dias com Summer. E eu me conheci, num dos maiores sustos de que tenho lembranças, sob o sol da primeira e última estação do hemisfério sul.
É bem verdade que algumas coisas duraram mais do que o verão merecia. Mas foi nesse mesmo clima que eu dei adeus a uma parte da minha irresponsabilidade e vi o segundo dente do juízo rasgar a carne, pra que as frações de tempo que me aguardam sejam encaradas com a sabedoria necessária. Ou, ao menos, com mais sabedoria do que já as enxerguei.
O verão viu cair a unha do pé que a primavera deixou roxa e observou nascer o trauma dos calçados abertos. Este mesmo verão que foi palco da inédita vez que andei de carona em um quadriciclo, da noite inédita em Balneário Camboriú sem-pai-nem-mãe, das inéditas cólicas misteriosas que me fizeram vomitar de dor, do inédito clichê "nem sabia que era possível vomitar de dor" e da descoberta da inédita pedra-nos-rins-de-três-milímetros-que-faz-vomitar-de-dor.
Sou grata por tudo que o verão levou embora mas, mais que isso, pelo que de encantador e enigmático me trouxe. Uma literatura inesperada, elogios que pareceram incontidos, bijuterias, trufas e tortas de frango, conversas a serem esquecidas, beijinho de quando se tem nove anos, seduções disfarçadas, banco de carro, sonhos esquisitos, projeções dilaceradas, miojos e caipiras na sexta-feira. Festas. Bolhas nos pés. E cantorias, no sereno ou não, vendo nascer os dias seguintes.
Cada estação é dona de suas próprias possibilidades. Se a que passou era a da perdição, que a que chegue seja a do encontro. Não o encontro do que foi perdido e dificilmente encontrará o caminho de volta, mas de tudo aquilo que aguarda e espera por mim, que já está escrito, se é que algum destino se escreve antecipadamente. Do contrário, que eu saiba escrevê-lo.
Que o outono seja um circuito a duzentos quilômetros por hora em que tudo que exista de verdadeiro e de melhor corra ao meu lado, e que o que peca pelo excesso, pelas mentiras e re-mentiras, pela mornidão ou pela dúvida não me alcance. Que as surpresas me ultrapassem só pra me ver passar de novo, na efêmera circunstância de quem está sempre desesperado pela entrega e para a satisfação de atravessar etapas.