segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pressa, paciência. Amor, contingência.

Chegou-me um garoto apressado no balcão do trabalho, na última sexta-feira. Precisava de tempo para chegar ao destino depois da parada obrigatória no setor das certidões, um dos meus. Faltavam cinco minutos para o fim do expediente e a minha imensa pressa para que aquela tarde acabasse logo era a vontade dele que o relógio desacelerasse e houvesse tempo para tudo. "Devagar aí, senhor Tempo. É minha única tarde de folga", a testa dele estampava. "Pressa, pressa, pressa", minhas mãos denunciavam.
No sábado, pensando a esse respeito e a outros, achei mesmo que o embate entre a pressa e a paciência sempre fora um dos mais cruéis, ao menos para mim. E para tudo que quase todos tivessem paciência, eu concluí que seria afoita. Por escolha própria, sempre que houve e houvesse possibilidade assumi e assumiria o revés da urgência para gozar dos benefícios do imediato. E cada vez mais, a pressa tomaria conta dos meus desejos. Tudo. Muito. Sempre para ontem e sem culpa. Pensei como o longo prazo toma espaço demais das coisas de agora, e o agora exige apenas o que o curto prazo proporciona, ao passo que não se importa com atitudes paulatinas, planejadas e com outras tantas, tantas... abdicadas.
No domingo subverti o tempo e, por razão de certa pressa - que a esta altura já me é tão familiar - esqueci o relógio. Melhor que pensar e esquecer, apenas não pensar. Eu não queria pensar na vantagem da calma, porque não me parecia provável que houvesse benefício em, estática, esperar que as coisas acontecessem ou realizá-las a passos lentos, feito plano, como objetivo. Fazia sentido, imenso sentido, glorioso sentido não querer mais do que o que fosse intensamente efêmero - ou efemeramente intenso? pouco importava... - do que o instante.
Não sei se os que andam por aí afora com suas calmas vidas, suas atitudes bem pensadas e sua paciência terão tempo para tudo e é por isso que, megalomaníaca, assumi desde a sexta-feira o compromisso de fazer parte do outro time. A paciência lá está. Eu a vejo do outro lado da mesa. Contígua à vontade de que o tempo desacelere. Lá, longe, onde estão os prudentes, os remediáveis, os afetos à segurança e os apegados ao amor necessário. No campo firme e exclusivo da necessidade.
E eu aqui. Num terreno meio Sartre e Beauvoir, despreocupada, você entende? Achando que é preciso dar espaço às oportunidades apressadamente, para não deixar que nenhuma delas escape. Com tendência à ligeireza, à precipitação, a devorar o tempo, ao infinito enquanto dure. Entregue aos braços das delícias que a pressa pode trazer consigo.
Você leu tudo até aqui.

Pressa ou paciência?
Eu só queria dizer: Amor, contingência...

Um comentário:

Anônimo disse...

Os textos continuam brilhantes, brilhantemente emocionantes! Ainda me espanto com as voltas que tu fazes com que as entrelinhas façam. Ironicamente tive paciência para ler seus textos e nenhuma pressa em querer acabar de lê-los!

Kamikasianami