quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Memória - Carlos Drummond de Andrade. OU "Das coisas findas..."

Percorri o corredor arrastando os chinelos na velocidade de um assobio. Não deveria ter procurado vestígios. Eu era capaz de ouvir seis cordas sendo dedilhadas em um eco muito mais alto do que eu jamais houvera ouvido. Guns N' Roses. Patience. Maldades da minha consciência sagaz, ele diria.
Um prato me encarava tão catatônico quanto eu mesma estivera e, coberta por uma farofa mal feita, a fatia doce esperava ansiosa. Falta de fome. A cabeça estivera tão bem acomodada com o punho e o garfo houvera analisado o prato com tanta minúcia que parecera falta de amor-próprio mastigar e engolir aquela comida.
E em meio ao assobio, alguém dizia quase como canto que o maior dos erros houvera sido nunca ter confessado nenhuma falta, por menor que fosse. Assobio. "É isso que o egoísmo faz com as pessoas." Outro assobio. "Dá pra insistir, dá pra continuar." É claro, é claro que sempre dá. "Dá pra camuflar, dá pra fingir esquecimento?" É claro - eu diria, soberba - ...é claro que dá pra forjar que não sente falta. Assobio. Honestamente, eu sinto falta da falta que a falta não me fazia...

You and I'll just use a little patience...

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