sábado, 4 de dezembro de 2010

No alarms and no surprises, let me out of here... [Radiohead.]

"Eu queria ir pra um lugar onde eu tivesse uma sensaçãozinha,
ilusória que fosse, de que tinha alguém prestando atenção em mim."
Caio F.

Prendi a respiração para firmar o pulso e terminar de fazer o risco fino de delineador no olho direito, que sempre fica por último. Sorri para o espelho, só para notar se eu ainda ficava bem fazendo aquilo assim, quase sincera. Não sabia bem o que estava fazendo. Não sabia, com exatidão, o que me levava a mudar completamente de rumo em tão pouco tempo. Não sabia o motivo do meu desânimo com aquela história, da minha rebeldia. Ou sabia, mas era tão vergonhoso que eu não me permitiria confessá-lo. Não sabia que rumo aquela noite, aquela madrugada, todas as manhãs seguintes deveriam tomar. Supunha que deveria insistir, porque é bonito insistir, que deveria ser doce, porque ser doce era o que eu fazia de melhor - mas nem sempre eu quis o melhor, nem sempre eu conquistei o melhor. Então por que dessa vez? Por que atirar-se em uma história em que eu não estava consolidada como escritora? Sim, pois eu não saberia outro modo de me entregar a uma história sem ter as certezas de ser dona de mim, do outro, do nosso roteiro. Esse era um jeito de não sofrer, ou de sofrer menos.
O problema, contudo, consistiria sempre na falta de surpresas. Quem escreve o destino de próprio punho raramente encontra outra aventura que não parcas linhas, meio tortas, ou o fim da folha de papel, dos dias... Quem escreve o seu destino escolhe sempre o seu rumo. E por mais que a confissão seja desesperada, não quereria escrever meu destino sozinha. Nem do sozinha de solitária, mas principalmente não do sozinha acompanhada. Quereria escrevê-lo a quatro mãos. E eu me entregaria tantas vezes, e eu não me importaria com tantas esperas, e eu não ligaria para tanta distância, e eu me doaria sem hesitar, e eu procuraria em todos os lugares, formaturas, carros, ruas, becos, salas, janelas e avenidas aquele que me acompanharia. E eu faria se tivesse certeza que não fosse sentir tudo isso... Todo esse oco no peito, toda essa sensação de fracasso, todo esse estar só de falta de proteção, de falta de reciprocidade, de falta de entrega, de falta de atenção, de falta de dedicação, de falta de cuidado, de falta de um pouco mais que menos da metade.

Queria só te dizer: O olho acabou marcado, chamativo, delineado, na vista, inconfundível. E era como eu queria que as minhas vontades estivessem. Não me custaria perder o fôlego.

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