segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O Largo

Sábado, bem cedo, as ruas quase desertas inda são ruas. Vão-se os séculos, fica nelas a firmeza dos passos. Precárias e contínuas, em cada pedra uma história. Cada prédio antigo tem um silêncio, atemporal. Inspira a fé que anima toda igreja e todo credo. É um silêncio que já assistiu a muito exagero de bar, mão dada, moeda de pedinte, fonte dos desejos. Tanta, tanta, tanta possibilidade. Multifacetada a cidade, a gente pode ser como é. Fãs do que somos. Legião de desiguais comungando – nem que seja – somente um lugar. Avista-se a esquina e já se sabe o que espera: o Largo. Fartíssimo à primeira vista, provoca um deslumbramento que dura. Infinito no quanto singular. Um espetáculo à parte. Imenso em mim, tanto, que um retrato nem consegue demonstrar. Tudo que se vive de raro naquela não viela fica, docemente, encerrado ali. O Largo, lhano como aquele riso, guardará a certeza dos dias em que, juntos, até caminhar foi mais leve. Amor como uma unidade de espaço: o Largo. Onde a gente quer estar, sem pressa, apesar do tempo e além dos passantes. Depois de conhecido, o Largo acompanha. Estranhamente familiar e capaz de conter o encantamento e o eterno do instante vivido ou imaginado, como toda arte.

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