quinta-feira, 25 de abril de 2013

De quinta - Repetições de bio e de lógica

"(...) de repente, entendo que ser um ator a meu modo é a atividade mais sem sentido, mais efêmera e mais egoística que existe. Enraivecido, me censuro por haver permitido que tanta gente me conhecesse e tivesse enxergado a profundeza da tola vaidade que os limites estreitos do ninho e a rigidez dos galhos haviam impedido anteriormente que eu expusesse até a mim mesmo. Humilhadíssimo por meu comportamento ter sido posto a nu, considero ir para outra universidade, onde possa começar do zero, não conspurcado, conforme o olhar dos outros, pela atração egomaníaca que as luzes da ribalta e os aplausos exerciam sobre mim." (Philip Roth in: O Professor do Desejo)

O dilema mais vulgar versa sempre sobre a aprovação dos outros. Ou, dito de outro modo, sobre a nossa própria carência. É por isso que se formos bem espertos - ou bem maldosos, ou os dois - vingamos nossos defeitos e mediocridade dando de ombros com sadismo, insinuando sempre com uma crueldade requintada que, por mais que se repita, nunca deixa de ser sem precedentes. É porque sabemos ou esperamos que isso fira tanto quanto o mesmo comportamento já nos feriu, ou ainda porque mais vale se antecipar - ferir o ferro, pra ele não nos ferir. Indistintamente e obsidentemente.
Nós somos grandes e imprescindíveis. Nós agradamos. Nós somos grandessíssimos tolos seguros de nós a todo o tempo. Obsessores, a soberba é nosso trunfo contra a condição de nascer sozinho, conseguir atenção... e virar um palhaço ou um monstro. A empáfia é o troco que damos ao mundo quando a plateia não ri e não aplaude. Mas ela sempre sente medo, agonia e pavor.
O mundo oferece a ribalta, mas nos faz crer que não cai mal um pouco menos de luz, um pouco mais de paz. A gente se acha tanto que esquece de se procurar e, às vezes, é na coxia que os melhores processos internos de conhecimento e redescoberta da própria tranquilidade acontecem. É na coxia que podemos começar do zero sob qualquer aspecto. É longe do acesso da profundidade dos olhares dos outros que nos preparamos intimamente para um espetáculo que, a qualquer tempo e em todo lugar, pode dar certo ou vontade de fugir: Viver.

Nenhum comentário: