domingo, 20 de março de 2011

Bellum omnia omnes


"Estou adorável. Quem não me conhecesse, me compraria, assim, pronta para a sessão noturna do meu teatro, em cartaz nos últimos tempos. O ser humano faz da cara o que quer... Comigo não será diferente", pensei. E desci as escadas certa de que a noite que me esperava não era, nem de longe, o itinerário ideal para o meu estado de espírito. Não seria de lamentar se o motorista errasse o caminho pra qualquer lugar infinitamente longe dali.
Respirei fundo no desembarque e treinei aquela expressão facial de quem está ambientada com a ideia. Mais uma vez, minha inconstância tinha me pregado uma peça daquelas. As mentiras têm pernas curtas, mas todas as minhas estavam envoltas em uma saia emprestada que cobria bem o que precisava ser coberto, enquanto a parte à mostra contribuía para me rasgar de vergonha do imbróglio da ocasião, em cada passo. Eu era uma barata tonta à luz de uma lâmpada fluorescente inadequada para segredos tão sombrios. Atrapalhada por um instinto que não devia estar ali.
Aquilo tudo regado a muito constrangimento, bebida gaseificada e um pouco de gente esquisita me dava nos nervos... Foi o que notei assim que acordei. Deveria ter fugido dali com o salto alto na mão feito noiva arrependida, aproveitando pra borrar a maquiagem com duas ou três lágrimas e benzer com aquilo um fim mais do que necessário. Permaneci. A situação era mesmo ridícula, como eu merecia que fosse. "Cada um busca, para si, o que acha que merece."
Cada olhada no espelho me fazia lembrar que eu não poderia voltar ao início daquela busca e escolher outro caminho. Estava feito. Respirei, limpei o lápis borrado feito olheira pela enésima vez e atravessei a porta como quem vai à forca. Desde muito menina, achava que merecia um amor que exigisse obstáculos, buscas, toda aquela marmelada dos filmes e contos de fada. Até esse ponto ainda vá lá, tudo ok. Eis que, agora, tudo era dispensável. Eu só queria algo fácil, instantâneo, sem complicações.
"Construir coisas sólidas é complicado demais... Principalmente com esse brinco de bijuteria pesando nas minhas orelhas e essa blusa de regata um pouco larga." A cada coisa ou pessoa que passava em direção à saída, eu quereria mesmo era passar com ela. Desculpem-me a sinceridade, mas em estado natural, sem a cegueira da paixão, eu tenho uma puta de uma preguiça dessas ocasiões que o amor nos obriga a viver. Preguiça de amar. De me convencer que estou feliz. Da renúncia que essa história toda envolve. Sou egoísta e narcisista demais para me esquecer de mim.
Gosto mesmo é de lutas involuntárias, onde cada ato é uma prova do quanto vale a pena cometer aquele mesmo ato. Bellum omnia omnes. Todos contra todos. Em meados da indecisão. Confirmado o tédio. Desejando aquela fumaça do desaparecimento dos mágicos famosos. Eu cada vez mais convencida: Talvez eu não houvesse sido programada para lutar ao lado de ninguém que exigisse o mínimo do mínimo dos esforços... Não por enquanto. Principalmente se não fosse tão mínimo assim, para mim. Estava chegando ao fim... E eu tinha vontade de chorar quando pensava que este sonho e estas memórias iriam pelo ralo, como todas que os antecederam... Convicta, concluí que o fim do espetáculo não tardaria.

Um comentário:

Anônimo disse...

O show pode ter acabado, mas ainda há alguém que conheço esperando atrás da cortina para a PRÓXIMA apresentação.

Gosto cada vez mais das suas analogias, quantas vezes já quiz a fumaça do mágico ou o bendito control z da vida real ou o buraco para se esconder...

Mas como sempre digo (ao menos digo para mim mesmo) GUARDE OS APLÁUSOS PARA O FIM, POIS AINDA TEREI O FINAL FELIZ QUE TODOS DESEJAVAM...

GUSTAVO 1...