Eu já nem sei agora se você é digno de que eu me lembre de você com essa simpatia inventada e que, muito a contragosto, agora caminha do meu lado, mas ainda assim eu lembro... Ternamente, romântica. Vou enrubescer ao menor sinal de que você tenha descoberto essa minha fraqueza de te querer por perto, mas nada além.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
A verdade é absurda no plural
Eu já nem sei agora se você é digno de que eu me lembre de você com essa simpatia inventada e que, muito a contragosto, agora caminha do meu lado, mas ainda assim eu lembro... Ternamente, romântica. Vou enrubescer ao menor sinal de que você tenha descoberto essa minha fraqueza de te querer por perto, mas nada além.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Por um segundo mais feliz
"O nosso amor não vai parar de rolar
De fugir e seguir como um rio...
Como uma pedra que divide um rio
Me diga coisas bonitas.
O nosso amor não vai olhar para trás...
Desencantar, nem ser tema de livro
A vida inteira eu quis um verso simples
Pra transformar o que eu digo
Rimas fáceis, calafrios...
Fure o dedo, faz um pacto comigo
Num segundo teu no meu
Por um segundo mais feliz..."
Adriana Calcanhotto
segunda-feira, 26 de julho de 2010
A minha gratidão é uma pessoa
mas a vida não precisa de juízes,
a questão é sermos razoáveis.
(...) Mas como começar de novo
se a ferida que sangrou
acostumou a me sentir prejudicado?
É só você lavar o rosto
e deixar que a água suja leve longe
do seu corpo o infeliz passado (...)"
Conheci gratidão em tempos difíceis e entendo que isso facilitou meu apego. Nos filmes, por exemplo, eu via espécies de gratidão disparando frases de efeito e achava algo tão distante que quase me doía. Portanto, ao conhecer gratidão de carne e osso, achei agradabilíssimo de tão real e lhe ofereci uma porção de hojes. Tinha manias estranhas, é verdade, mas gostava de minhas formas e de tudo que eu escrevia. Sentia-se incomodamente semelhante a mim. Gratidão era leve e sensível, tinha uma disposição sem fim para me ouvir e consolar, sorria muito, falava pouco e foi impossível não me afeiçoar àquele jeito sem medo de pronunciar “para sempre” em se tratando de nós. “Hoje é para sempre”, eu pensava, e acho até que cheguei a dizer. E verdadeiramente era. E fora este o nosso início desajeitado.
Não sei se posso dizer que gratidão chegou aos poucos, porque me é necessário considerar que foi num ímpeto que trouxe consigo uma porção de declarações de amor que guardava no bolso. Despejadas aos montes, em muitas parcelas, sem mais sem menos. Lembro-me do quanto sofria na época em que ninguém sabia a nosso respeito. Mesmo depois, poucos souberam de nossas verdadeiras dimensões e outros menos ainda do quanto era recíproco o que sentíamos. Por vezes, contudo, era um sofrimento divertido, já que as proibições nos faziam ferver de contentamento a cada encontro e, ao mesmo passo, de descontentamento a cada despedida. Era eu e gratidão, a sós, conhecendo a saudade, atributo do querer bem.
Gratidão tinha um abraço protetor e os beijos mais consonantes com os meus – coisa que, aliás, eu não precisava de muita experiência para supor. Gratidão compadecia de cada medo que eu tinha, agradavam-lhe os meus trajes, os meus ataques forjados de ciúme, os meus movimentos, as minhas piadas, a minha inocência e até a minha malícia. sei disso porque gratidão nunca soube dissimular muito bem. Em nossas conversas ria-se até a barriga doer, divertíamo-nos com os silêncios, as ironias e as coisas implícitas em geral. Nessas ocasiões, o sobrenome de nosso afeto era distração. E distração, por oportuno, servia de alento às lacunas que, se não me falha a memória, o nosso amor possuía.
Aos finalmentes me cansei do que outrora era ideal... Mas não me é consentido ou mesmo aceitável reduzir gratidão à monotonia da repetição. Gratidão não me enfadava. Assim, não por conta própria. Ao contrário... Sempre fora de uma criatividade insistente em sua maneira de conquista e a cada dia eu me sentia solidamente convencida de que gratidão era, ainda indubitavelmente, o melhor par romântico que eu jamais teria pensado deter. No entanto isso já não chegava, não era o bastante... Enquanto procuro um sinônimo à altura de “sufocar” preciso admitir que, vez ou outra, as coisas ideais não são o suficiente, principalmente para quem não se sente firme nos propósitos.
Passaria, agora, longas semanas, sufocada. Sem motivo, não quereria mais o gosto de gratidão em minha saliva. Nem da piedade. Nem de questionamentos. Seus tantos planos - os quais eu não realizara – tornaram-me um pouco grosseira ao admitir o pesar da frustração. Mas gratidão segue, a passos que eu nem sei se são lentos ou apressados demais. Segue igual, ou disforme. Ou de forma muito parecida com gratidão que eu conheci naqueles tempos difíceis e essa última hipótese quase me provoca uma sensação de alívio. Não tornei gratidão rude, ou mesmo não pus nenhuma parcela de meu amargo em gratidão, talvez mesmo isso seja tudo que eu esperaria não ter feito, almejando sua felicidade.
Jamais dei conta de explicar-lhe toda minha razão e não sei se realmente teria razões a serem explicadas. Ora! Os argumentos de gratidão são infalíveis e precisos, e mesmo quando zomba, gratidão tem um ar tão naturalmente indiferente nos últimos tempos que chega a me deixar estupefata. Nunca soubera ao certo porque me tornei, tão por vontade, uma persona non grata. Deve ter sido aquele sufoco do fim do mês, a angústia, o início da faculdade ou a véspera do feriado. Houve um tempo em que eu acreditei que gratidão jamais se cansaria da minha indecisão, dos meus desassossegos, das minhas confusões ou do pouco de mim dedicado - que ainda assim eu repartia, principalmente perto do fim. E é por isso que nunca pude garantir se merecemos de fato o fim que tivemos... Ou gratidão nunca me contestou depois da nossa despedida para que eu refletisse a esse respeito, ou foram tão poucas e sutis as vezes em que o fizera que tratei de não enternecer com aquilo.
Acho que amei gratidão de uma forma que não se repetirá outras vezes em outras oportunidades e creio ter sido singular o modo com o qual gratidão também me amou... Efêmero, gratuito, exacerbado. Fora de ordem. Justamente do jeito que se deve ser e doar-se o amor, ou como eu o imaginara depois de abandonar gratidão naquela rodoviária. E é pelo abandono que me sinto em dívida de explicações que eu mesma não possuo. Posterior ao nosso fim, hoje e “para sempre” eu desejo tudo aquilo que é lindo, fabuloso, espetacular e extraordinário para gratidão, porque gratidão me fez um bem sem tamanho e eu disse isso menos vezes do que deveria. Guardo gratidão “para sempre” comigo. Porque gratidão foi quem me ensinou o valor de para sempres.
E então desejo, altruísta, porções generosas de gratidão a quaisquer que sejam os alguéns com os quais vier a se envolver. Desejo, além disso e por último, que tais alguéns sejam capazes de ser gratos, em retribuição, como gratidão espera e - acima de tudo - merece. Exatamente da forma como não dei conta de ser naquelas semanas as quais me sufoquei, não por falta de ar, mas por excesso de confusão e de mim.
E dou adeus a gratidão, de uma vez. Nunca mais seremos os mesmos, porque o tempo passa e com o tempo, inevitavelmente e amiúde, mudaremos. Aí está a data de hoje, que não me deixa mentir... Feliz aniversário, gratidão. Amor, amigos, saúde, sorte, surpresas e todo o mais que de melhor possa haver. A minha gratidão é uma pessoa, e esse é pra você!
(...) "e viveram felizes...
para sempre,
e eles estavam livres
da perfeição
que só fazia estragos..."
Nando Reis
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Prometo refletir
Ou eu tô enlouquecendo?
Mas refletir, assim mesmo.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
A voz da razão
Ele deve se achar a pessoa que eu menos gosto entre todas. Se eu caminho junto a Linde, afasto-me de propósito o mais possível; se as moças falam com ele, eu não me reúno a elas de jeito nenhum. Quero demonstrar a cada momento que antipatizo com ele, que não o amo [...]
Quando você gosta de alguém, então toda a vida se concentra nele: falar para que ele escute, agir de modo que ele perceba [...]
Porque eu vim a saber inoportunamente do enamoramento de Linde, então a consciência da minha impotência fica exasperada assim? Afinal, posso competir com O.? Com aquela moça requintada, que não só jamais dirá uma palavra indelicada, como nem sequer fará um gesto deselegante? Ao passo que eu...! Com voz selvagem, mando todos para o diabo e, encarniçadamente, saio no tapa com os rapazes que me importunam. Não seria o caso de desencadear uma transformação? A mudança só pode acontecer em nome de alguma coisa, mas o nome que me inspira eu devo esquecer. É fácil, porque é só um leve enamoramento e mais nada, mas minha cabeça boba pergunta: "Seria melhor travar uma batalha?". Mas onde existem dúvidas é difícil pensar no sucesso; aliás, essa é sempre a voz da razão.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Porre
É só, meretíssimo.
sábado, 17 de julho de 2010
Despedidas
Mas para o Charles e toda a sua juventude, fatalmente, não haverá amanhãs. Charles não poderá mais assistir seu time ser campeão, nem comprar o carro dos planos, nem viajar para a praia. Charles não verá agosto dissipar o frio, quanto menos setembro anunciar a primavera... Charles não comemorará seu próximo aniversário, não saberá o que é envelhecer com sabedoria, não reclamará do governo que vai assumir o país. Charles não terá tempo para ter filhos, não irá reconciliar-se com desafetos, não será possível dizer eu te amo uma última vez a quem quer que ele amasse. E essa porção de verbos, negados por um acidente que lhe tomou a vida, dão conta de desolar a nós, inconformados.
Embora haja algumas explicações – sejam elas o destino que já estava escrito, uma missão que fora cumprida ou um chamado divino para os céus – nenhuma delas dá conta de acalmar a angústia de um momento como esse. A morte que me perdoe, mas acharei, agora e sempre, que foi cedo para o Charles e para tantos outros que morrem todos os dias. Porque ainda havia tanto por viver...
Em um momento a vida é tão imensa, cheia de cores, e em outro, tão pequena a ponto de caber e esvair-se em alguns segundos. Não é o acidente que me assombra, nem só a morte que me espanta... É a vida, recheada de uma fragilidade sem fim, que doerá a cada um de nós nessa inevitável despedida. Doerá porque olharemos para trás e, em nossas memórias, Charles sorrirá para sempre como no último riso que ele deu em nossa companhia. E doerá porque, ao nos lembrarmos dele, lembraremos também de todos aqueles que nos são caros e que, mais dia menos dia, nos deixarão de formas que, ao coração, serão invariavelmente cruéis. Cabe a quem fica retirar daquele último sorriso força para continuar. Procurar naquele último contato um suspiro de conforto que seja capaz de motivar a seguir...
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Aquilo que só eu conheço
a chamada alta-roda.
Como se torna odiosa a vida que passa
só para nos arrastar ao terror.
Meu destino, lento e furtivo,
consiste em viver numa concha apertada e escura.
E esconder de quem quer que seja os meus sonhos íntimos
ou aquilo que só eu conheço.
Nina L., p. 175
terça-feira, 13 de julho de 2010
Leituras, tapetes e viagens em geral
Com franqueza, não me animo a dizer que você não vá. Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem, eu não direi que fique. Em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si mesma, e a si mesma caçando; nesta brincadeira boba passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida — e às vezes reparamos que é ela que se vai, está sempre indo, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando. Assim estou eu. E não é sem melancolia que me preparo para ver você sumir na curva do rio — você que não chegou a entrar na minha vida, que não pisou na minha barranca, mas, por um instante, deu um movimento mais alegre à corrente, mais brilho às espumas e mais doçura ao murmúrio das águas. Foi um belo momento, que resultou triste, mas passou. Apenas quero que dentro de si mesma haja, na hora de partir, uma determinação austera e suave de não esperar muito; de não pedir à viagem alegrias muito maiores que a de alguns momentos. Como este, sempre maravilhoso, em que no bojo da noite, na poltrona de um avião ou de um trem, ou no convés de um navio, a gente sente que não está deixando apenas uma cidade, mas uma parte da vida, uma pequena multidão de caras e problemas e inquietações que pareciam eternos e fatais e, de repente, somem como a nuvem que fica para trás. Esse instante de libertação é a grande recompensa do vagabundo; só mais tarde ele sente que uma pessoa é feita de muitas almas, e que várias, dele, ficaram penando na cidade abandonada. E há também instantes bons, em terra estrangeira, melhores que o das excitações e descobertas, e as súbitas visões de belezas sonhadas. São aqueles momentos mansos em que, de uma janela ou da mesa de um bar, ele vê, de repente, a cidade estranha, no palor do crepúsculo, respirar suavemente como velha amiga, e reconhece que aquele perfil de casas e chaminés já é um pouco, e docemente, coisa sua. Mas há também, e não vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidão e de morno desespero; aquela surda saudade que não é de terra nem de gente, e é de tudo, é de um ar em que se fica mais distraído, é de um cheiro antigo de chuva na terra da infância, é de qualquer coisa esquecida e humilde - torresmo, moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, conversa mole, peteca, qualquer bobagem. Mas então as bobagens do estrangeiro não rimam com a gente, as ruas são hostis e as casas se fecham com egoísmo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto em sua língua dói no exilado como bofetadas injustas. Há o momento em que você defronta o telefone na mesa da cabeceira e não tem com quem falar, e olha a imensa lista de nomes desconhecidos com um tédio cruel. Boa viagem, e passe bem. Minha ternura vagabunda e inútil, que se distribui por tanto lado, acompanha, pode estar certa, você.