sábado, 13 de outubro de 2012

Prosódia

Conheci uma jovem senhora que tinha por hábito detestar o óbvio. Ocorre que, por detestar o óbvio, a vida não lhe surpreendia. Quando o acaso tocava a campainha, logo saía correndo, feito moleque assustado. Culpa da jovem senhora, que costumava estar mal humorada, espreitando tediosa para repreender o acaso pelo atraso em aparecer.
Um belo dia a jovem senhora, sozinha, arrumou-se e saiu pra beber, cansada de esperar o extraordinário, olhando a vida passar pela janela. Divertiu-se. A coisa fluiu, embora clichê. E o tédio e a loucura se repetiram pelo resto de sua vida porque ela permitiu. Simples assim. Um ciclo óbvio, e por isso razoavelmente detestável, mas que agora já fazia da jovem senhora cada vez mais jovem e muito menos senhora.
Não por coincidência, naquela noite estranhamente normal, a jovem senhora aprendeu que a vida é ritmo. Sucessão de tempos fortes e fracos que se alternam com intervalos regulares. Ainda, aprendeu que se o feijão com arroz sustenta, se o papai e mamãe convence e se na moda o menos é mais, um clichê vez ou outra tem lá seu valor. Nem que seja para oportunizar aprendizados agudos, dilacerações graves, entonações falseadas e efêmeras paixões. De uma noite. Levemente sonoras. Clichês que ditam o compasso de capítulos inéditos - e, por isso mesmo, apetecedores.

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