quarta-feira, 10 de julho de 2024

Eco [27]

— Bom demais! Se eu soubesse que era o teu favorito, tinha visto antes.
— Antes de me conhecer?
— É. Pra termos mais isso em comum.
— Não que precisássemos. - e ao dizer isso encostou o nariz no meu, pra logo afastá-lo de novo, abrindo os olhos - A minha prova final é saber qual foi a tua cena favorita.
— A única que me fez rir. Bem no começo. Dan e Larry no chat, com o Dan se passando pela Anna.
— Zero cabeça, hein? Não era um filme de comédia. Mas tudo bem. - ela disse, rindo - Porque eu também amo essa. Apesar de ser só o clichê de um escritor entediado com seu cigarro aceso procurando sarna...
— ...pra se coçar um pouco, sim.
— Ia dizer "pra poder escrever sobre a coceira" - e fez as aspas com as mãos.
— É, deve ter um encanto extra fazer as coisas mirabolantes que geralmente só acontecem dentro da cabeça primeiro acontecerem, em si, pra depois então escrever sobre elas.
— Você falando assim é como se tudo não acontecesse sempre, primeiro, dentro da nossa cabeça.
— Você entendeu. Mas deixa eu justificar melhor o meu ponto. Eu acho que gostei porque, em alguma medida, aquela bobagem que definiu a trama inteira...
— Tens razão. O horizonte de eventos.
— ...mas temo que essas "grandezas" da arte - e aí também fiz as aspas com as mãos, pra arrancar outro risinho dela - é que fazem a gente sonhar alto demais sobre o amor e como ele funciona.
— Alto? Como encontrar o amor num double date surpresa que tinha tudo pra ser bizarro? - e veio se aproximando linda, linda.
— Tipo isso. Uma vez em mil, e a gente acostuma mal querendo que seja a regra.
— É o meu filme favorito justamente porque não precisa de um segundo pra entender que tudo dá errado.
— E certo!
— E depois errado de novo.
— Mas if you believe in love at first sight...
— ... you never stop looking.
— Ia dizer "take a closer look".