segunda-feira, 8 de julho de 2024

Cativo [2]

Se vou me concentrar nisso para vir renascido o amor, ainda que bento de lágrimas, antes preciso tornar claras algumas coisas que já estão supostas entre nós. Como a Custódia da Véspera da Madeira, há momentos importantes da nossa trama em que suspeito que “se fosse sempre assim, eu teria te amado”. Digo, é óbvio que eu te amo, não estou aqui escrevendo deliberadamente, com esta concentração e afinco, para negar o que construímos. O contrário. Escrevo para lembrar o máximo que puder por que devo ficar. Só que antes os is precisam de pingos. Então talvez o mais adequado seja “eu teria te amado… mais”. Que coisa feia. Acho que é por isso que adiei dizer. Não há uma escala gradual. Amor tranquilo é espécie. São outras dimensões e naturezas. De qualquer forma, vou me concentrar em evocar os melhores momentos para me cativar de ti outra vez, por escrito. Porque acho que mereces. Todo o meu lirismo, retidão, a atenção e a devoção, o corpo e o resto. Principalmente o resto. Mas preciso que você entenda que não vou te enviar. Se você ler, você leu. Vou deixar aqui pra sempre, e me apavora esta ser uma gaveta que pode ser que você não vá abrir para me pegar no pulo. Caralho. Isso é aterrorizante pra mim. Por que não abre, amor? Poxa. E, também, se finalmente ler, faz o favor de não reclamar da exposição, que se você fizer isso eu não vou aguentar. Preciso por pra fora. E digo mais. Também não me diz que leu com eu te amo e emoji de coração ou coisa econômica que o valha. Muito menos me mostra a resposta antes pra eu revisar, como nas vezes em que eu dou o melhor de mim nas legendas. Se fizer de novo isso agora eu vou te cantar a sério a Marina Sena desafinando Voltei pra mim. Tô avisando. Mas antes, e é por isso que estou fazendo o que estou fazendo, preciso descobrir o que é este “mim” pra onde posso eventualmente voltar. Este “mim” definitivamente eu comigo. E você reservando o lirismo inteiro para a música. Verbal. Literal. Como sempre. Porque não dizes coisas grandiloquentes, mal me lês, não respondes na mesma moeda, contigo não tenho esse eco. Ainda assim tenho uma certeza absoluta da tua companhia. Da tua admiração. Do teu olhar de maré mansa. Só que cada vez que você debocha de Rubel dizendo que é música de comer gente ou faz uma paródia, eu esmoreço. Esmoreço, percebe? O oposto do entusiasmo. Por outro lado você debocha da minha megalomania em vez de enaltecê-la, e isso acho providencial. Há sempre um equilíbrio. Essa frase diz o bastante para que eu a repita e nos acrescente: há sempre um equilíbrio entre nós. Nessa balança você me empresta uma calma da qual eu careço. Estou no caminho de descobrir se eu preciso (precisar, verbo imperativo) da troca para ser feliz. Ou se ainda pode me satisfazer apenas ser quem eu sou e você ser quem você é e enxergar(mos) a beleza dos freios e contrapesos. Voilà. Temos o ponto central de todas as minhas divagações de ultimamente. O grande mistério que envelopa os outros, como uma capa comprida e impermeável que protege o cavalo e o cavaleiro. O mistério que camufla a ferrugem debaixo das minhas unhas e se apresenta - agora de um jeito a ser resolvido, que eu não posso mais escolher ignorar.