sexta-feira, 3 de julho de 2020

Não se deixa prender

Quando estou em paz, corto os temperos em pedaços muito pequenos pra cozinhar e acerto as medidas de tudo. Levanto do sofá disposta a encarar o dia e encontro o que estava perdido nas gavetas com facilidade. Não esqueço das chaves, do lugar onde guardei os brincos ou de retornar as ligações. No trânsito, de carro ou a pé, encontro bem verdes todos os semáforos. Meus caminhos parecem todos abertos e, quando estou em paz, isso não me assusta. Um mistério que não decifro e não passa despercebido. Quando estou em paz tenho reflexos, intuição e serenidade. Quando estou em paz tenho sorte e não quero viajar no tempo. Não desejo corrigir meus desassossegos, como a série da moda, porque acho mesmo que não seria capaz de evitar pequenas tragédias. Quando estou em paz, não desejo saltar as angústias me equilibrando de momento de paz em momento de paz. Reconheço nessa tranquilidade uma delicadeza que não sufoca e não se deixa prender.

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