terça-feira, 28 de julho de 2020

Minimalista

Guarda um tanto de ti na gaveta.
É a certeza que mata o mistério.
Se fica tudo pelo não dito
Sobra ainda uma chance
De fazer diferente
De reinventar
teu rito
De ir mudando lentamente
Enquanto o resto acontece

Guarda um tanto de ti na gaveta
para só pensar mais tarde.
Prefere um pouco
Que às vezes nada te anime
Que não te inquietem
O não e o sim
O vir ou o desvir.
Prefere um pouco
Que às vezes a euforia
Não passe de uma velha conhecida
E que o ritmo se desenhe por si.

Guarda um tanto de ti na gaveta.
Não terceiriza o poder
Do clima na tua barriga
Há um bocado de coisas
Que só se resolvem sozinhas
Com serenidade
Sem delegar, transferir
ou emprestar
culpa
e responsabilidade

Guarda um tanto de ti na gaveta.
No mesmo lugar daquele do Cortázar.
Resolve o conflito no centro
Resolve, primeiro, no centro!
Descobre de novo
Que o para-brisa é maior
Que o retrovisor
E depois volta, sem medo:
a olhar no fundo
a perceber o quanto vale
O que ficou guardado dentro

Nenhum comentário: