quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

A queda do império

Escrevo porque História de um Casamento conversou conosco e eu sei que não foi à toa. Não é estranho como tudo sempre vai se repetir em histórias como essa, mesmo que a gente nem se conheça? De Rubel à traição, há um efeito devastador repetitivo e idêntico no homem lírico. A gente só se dá conta no final. Calma, vem aqui, eu não quero te atacar. Esse texto é uma espécie de abraço. Não, um abraço não, que eu não sou de abraçar gente desconhecida e nem quero tanta intimidade contigo. Mas fica cada vez mais claro que eu te entendo mais e melhor que qualquer uma. É por isso que escrevo. Sei que é natural o processo de negação desse sentimento de agora, porque o que ele foi lá no início ainda faz eco bem fundo na memória. De um tanto que dá medo de voltar a ser grande. A gente vai minguando e assume essa condição como nossa. Há vida, mas não é mais a mesma: são os dilemas dele e a cabeça confusa dele despertando uma versão que você achou que havia morrido há muito tempo. A autoconfiança vai enredando nas canelas dele. Se ele caminha, dá medo. Sou porta-voz de uma notícia ingrata: a partir do momento em que você se deu conta disso naquela primeira vez - que só você sabe qual foi - e resolveu ignorar, perdoar e ficar, por qualquer razão que se confunda com um amor que tudo crê, tudo espera e tudo suporta, a culpa deixou de ser dele. Ainda dá pra não aceitar. Ainda dá pra aprender a levantar-se da mesa, como ensinou Nina.
E então as líricas se enredarão nos práticos, e sentirão um gosto estranho na boca. O gosto de serem elas mesmas.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Nada a ninguém

Como resistir à vontade de provar ao outro que evoluímos muitíssimo? De que agora somos mais legais, mais politizados, de que viajamos mais, gozamos mais, de que temos mais amigos, mais resiliência e mais dinheiro, menos problemas psicológicos e incomodações e menos ciúmes, de que somos intensamente merecedores de toda a redenção experimentada e que, de modo geral, estamos tão melhores que até parece que recebemos a visita de alguma entidade sobrenatural que pessoalmente compareceu ao mundo dos vivos para nos pacificar, enaltecer e fazer filial!?

Que bom quando tudo isso parece bobagem. Quando se comparar com o outro é tão desnecessário quanto se comparar com uma versão antiga de nós. Quando a gente compreende que não foi mais que o tempo e o seu trabalho natural. Quando abandonamos o "como pude!?" para dar lugar ao "naturalmente não poderia de novo". No mais absoluto silêncio.

É necessária muita certeza de si para não precisar provar nada a ninguém.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Demora em mim

Do tempo que havia um silêncio grudado na boca pra falar de amor. Que eu fazia de conta que não soubesse que dá pra sentir saudade já na presença, e teimava em não sucumbir de idolatria no nosso jeito (sem par, de tão junto, desde o início). Que eu fingia não enxergar o perdão inteiro que se anunciou no reencontro, eu que tive sempre ótima memória. E de nada, nada, nada me valia sem teu traço firme e teu riso largo pra vir à lembrança.
Que dizer agora, que a palavra é fluida? Que o tempo, o desejo, essa mágica - tudo cabe - me mudaram. Mudei eu, e me declaro. Confesso o amor e os pecados sem medo. Visto a camisa. E publico a minha confiança no que sou, és e seremos. Caminha comigo? Vamos juntos. Eu me digo e te bendigo. Faço prece: gasta a pressa com o resto da vida e demora em mim.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Queimada

Relacionar-se é transitar, sempre perigosamente, entre um terreno que é próprio e outro que não é. É lúdico imaginar que estamos num jogo de queimada, mas nem sempre convém arremessar a bola para derrubar o que nos parece ruim ou uma ameaça do outro lado. É preciso saltitar entre as metades deste salão com passos de um ballet bem pensado e na ponta dos pés, arriscando a estadia num território no qual você é convidado para estar ou chega de surpresa. Sempre como visita. O mundo pode ser todo seu, mas é melhor não abusar. Não dá para fazer e acontecer fora de casa. É preciso descalçar os sapatos e respeitar os objetos espalhados pelo chão da casa alheia. Tudo no campo do outro também é particular e sagrado, um pouco estrangeiro, desconhecido, e vez ou outra até inóspito. Tudo está ali por um motivo. E é assim que deve ser, para que ninguém se perca pelo caminho. Ninguém nasceu ontem ou no dia que nos conheceu. Não adianta ir arrancando o que parece erva daninha do chão com toda força, mudando os móveis de lugar, varrendo a poeira fina que ficou a pretexto de fazer uma faxina necessária. E tem ainda aquele papo de Clarice: a gente nunca sabe qual o defeito que sustenta o edifício inteiro. Não se recomenda apontar o dedo na cara, explicando presunçosamente como a vida e a organização do ambiente funcionam. Porque cada templo é cada templo, e se organiza à sua maneira, no seu próprio tempo. É preciso tomar tanto cuidado para não impor as próprias verdades! Para não tentar domar ninguém nas nossas regras. Para não colonizar o outro. Para não colocá-lo ao nosso serviço. Estamos todos atravessando um processo de encontrar a melhor versão de si mesmos, aprendendo a enfeitar e arrumar o nosso espaço. Nem sempre queremos ajuda. Nem sempre estamos dispostos à catequização. Nem sempre precisamos. Há que se ter paciência: para o bem ou para o mal, ninguém volta igual depois de atravessar a fronteira.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Para a parte de mim que já se quebrou antes

Eu te prometo não abrir mais a guarda, construindo fortalezas ao invés de pontes. Eu te prometo não deixar o que você gosta pra mais tarde. Não ceder. Definitivamente nunca ceder. Eu te prometo não dar sossego. E nunca mais deixar, nem mesmo secretamente, o destino de domingo na mão de alguém. Eu te prometo nem cogitar falar sobre sentimento. Não dormir fora de casa. Não dar o suspiro que precede a frouxidão. Não empolgar com uma gentileza. Não romantizar o que deveria ser tratado. Eu te prometo não demonstrar as fragilidades. Não higienizar as feridas na frente dos estranhos. Eu te prometo não abrir mão de absolutamente nenhuma convicção moral para caber em qualquer lugar. Eu juro solenemente que sei elencar prioridades autocentradas e não vou deixar de fazê-lo. Porque eu sei o trabalho que deu chegar até aqui. Pagar na mesma moeda. Recontar os trocados. Eu te prometo tirar força de onde não tem para que nada se repita. Não vou mais perder a direção dos pensamentos no meio da tarde. Eu te prometo não achar que qualquer coincidência é motivo para mais. Eu te prometo que nenhuma boca te fará sorrir mais que a tua própria. Eu te prometo especialmente o que não se promete a ninguém, porque foge do controle. Mas eu te perdoo, de novo, se você cansar de carregar o próprio mundo nas costas sozinha. Para ver recomeçar o quebrar-se e remendar-se. Quente e letrista. Outra vez.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Big bang

Tudo está no seu lugar. Ainda que o amor seja um peixe escorregadio, um corpo ensaboado ou um docinho coberto de gelatina que nos escapa sempre que tentamos firmá-lo entre os dedos. Tem no mundo esta mocinha bem loira de cabelo cacheadinho caminhando com uma sacola de compras e um abacaxi saltando para fora andando na minha frente. Tem o cara dos malabares no sinal e esta barata correndo pela calçada à procura de ser imortal resistindo ao próximo big bang, que é o sapato número quarenta e dois deste idoso lendo o jornal com o pé apoiado na parede da loja de eletrodomésticos. Tudo está onde deveria estar e nessas horas há uma calmaria que vem não sei de onde e cai vacilante como uma folha de outono no assoalho interno da gente. É quando a gente não se importa demais. Não espera demais. Não se detém demais. Não firma as rédeas demais. E flui com o tempo, que afinal é nosso aliado. A gente dá de ombros pra tudo, mas repara e aproveita este pequeno momento de agora, que o desinteresse de depois não tem fresta nem deixa espaço para retroceder. Por ele não passa a luz. Não vamos cortar a ponta da orelha da vida e nem esperar que enrede o rabo embaixo das pernas de quem estiver sentado na mesa de jantar. A gente cobre a aposta. E é curioso que para que esta constatação me venha leve muito leve seja necessário tanto contorcionismo. Ser amado é tão bom que a gente esquece que não é tudo. A sorte é que não há nada em desordem neste mundo. Tudo está no seu lugar.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Demônia

Dizem que as sereias são demônios marinhos. Não é engraçado!? Você me apresentou Nando Moreno e eu não gostei porque achei muito parecido com Eduardo Costa mas ainda assim, ou quem sabe por isso mesmo, outra vez eu segundei com Kafka reescrevendo o mito de Ulisses na cabeça, numa das minhas passagens literárias preferidas de todos os tempos: "Para se prevenir das sereias, Ulisses tampa as orelhas com cera e se faz prender ao mastro […] Ele confiava totalmente no punhado de cera, nas cordas que o prendiam, e no prazer inocente de confrontar as sereias, que possuem uma arma ainda mais terrível do que seu canto, que é o seu silêncio. Pode-se conceber, embora tal não aconteça, que alguém possa escapar de sua música, mas certamente não de seu silêncio [...]".
É segunda-feira e eu acordei no teu peito, mas antes do meio-dia eu percebi que você era o herói porque tinha escolhido não dar voz à sereia. E, sendo assim, a menos que uma outra casualidade tão enorme e pontual quanto a última nos acontecesse, não nos encontraríamos mais tão cedo como nas últimas duas noites. Embora conheçamos nossos nomes completos e eu saiba o teu endereço de cor. 
Nesta era de excesso, você me pôs num lugar de não-fala. Um exílio para desconfiar em silêncio, com progressão geométrica, da promessa de repetirmos tudo um pouco diferente daqui a sete anos. Tornando impossível que neste meio tempo eu lhe corrompa com a minha obsessão por falar a verdade, cooptar o mocinho para o meu time e consertá-lo no fundo do meu mar.
É mais ou menos como se, pondo cera nos ouvidos, você tivesse escolhido utilizar o que é feito para uma coisa para fazer outra. Um secador de cabelo para desembaçar o espelho do banheiro ou algo assim. Ter à mão uma sereia e escolher que ela não cante é um enigma que se desvenda fácil. De Édipo a Electra, passando pelas pessoas atrás destas janelas que se vê da janela de onde se vê toda a cidade no escuro da noite, todas as nossas tragédias são extremamente parecidas. E se é verdade que evitar que eu cante pode te poupar de algumas dores de cabeça, também preciso te lembrar que ninguém é capaz de se prevenir do impacto de uma sereia em silêncio.
Que será? Eu me pergunto e tua determinação ri dos meus encantos com a força de um soco na boca. Caso não durem mesmo mais que uma semana, sei que depois um de nós ainda vai lembrar que, mesmo quieta, eu sou demônia e capturei de perto um pouco do brilho do teu par de olhos pequeno.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Aviões de verdade

A flexão é um ato kamikaze. Você estica os cotovelos com os pés em posição de prancha ou joelhos apoiados e se projeta contra o chão com uma coragem absurda, confiando que os músculos dos braços darão conta de te botar para cima novamente, repetidas vezes. Porque dão. Eles sempre dão.
O movimento tonifica o corpo. Se você contrair o abdômen, melhor ainda. Quanto mais flexões você faz, mais fará da próxima vez. Mas precisa se dispor a ir e voltar do nível mais baixo que a gravidade permitir, de preferência sem soltar o peso todo, num mergulho contra o solo que adianta a cabeça muito para a frente das mãos. Dá um pouco de medo no início, mas passa. Depois da primeira vez só melhora, porque você adquire a autoconfiança de saber o que está fazendo e passa a fazer conscientemente. Às vezes sem querer fazer. Às vezes com os braços tremendo, como se tivessem medo de sair da inércia, a condição mais confortável. Às vezes você vai descansar exausto, com o rosto encostado no tatame, e tudo bem. Porque isso ajuda no processo de se dar conta de que envergará todo muitas vezes, mas não quebrará nunca.
Os ombros também precisam dar conta do recado, porque guardam uma das articulações fundamentais para que tudo aconteça. É preciso esquecer do quanto pesa. É preciso botar a matéria à disposição da metáfora. E se na gramática as palavras se contorcem em flexão para virarem outras no pretérito imperfeito, no futuro ou no presente e no imperativo, a verdade é que para fletir na vida é preciso confiar em si mesmo com toda a dedicação, de absolutamente todos os músculos. Inclusive do coração. Para fazer uma flexão que te torne mais forte com sucesso, você vai precisar de um corpo e de coragem para usá-lo para emergir.
A flexão é uma verdade que vem à tona. Você se reconhece humano e em constante progresso. A flexão exige força e, ao mesmo tempo, te faz cada vez mais forte. É como finalmente substituir aviões de papel por aviões de verdade.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Soterrar

Pra que endereço eu mando o faqueiro de prata e um cartão com o passe bem, muitas felicidades, que os filhos venham com saúde!? Como é que eu faço pra ser testemunha desse grandioso momento e, ao mesmo tempo, manter o sorriso na cara e os prazos em dia? Como é que eu vou lidar sozinha com esta merda? Pior: como é que eu vou lidar acompanhada com esta merda imensa, sem que ninguém perceba? Se eu ainda corro de medo de não estar pronta para a vida ao menor sinal de proximidade. O que que sobrou pra mim além deste orgulho grande, duro e indigesto, que não vai bem com feijão, com cerveja, com nada? Quantas camadas de lama grossa serão necessárias para soterrar mais esta? Que belo timing! Francamente, que belo timing. Como é que eu vou continuar sendo capaz de substituí-lo por alguém que vive de renda e nunca ouve Caetano? Eu vou lamber o chão de quantas praias paradisíacas, palácios e monumentos históricos até conseguir deixar de vez tudo pra lá? Quantas milhas eu vou peregrinar pra finalmente esquecer e me encontrar? Quão reclusa eu vou precisar ficar? Como expurgar estes demônios que agora cantam alto nos meus ouvidos? Quantas contas eu vou refazer sobre os preços que eu não pagaria para tê-lo por perto? Quando é que eu vou aprender a perder a competição do jogo do contente? Se eu tenho uma falta de talento nata para não ser honesta comigo mesma. Quando é que vai deixar de fazer diferença? Quando é que eu vou ouvir - e acreditar - na minha própria voz me explicando com toda a calma e paciência que agora sim, mocinha, veja bem, agora sim aquele tempo é final e definitivamente longe demais.

domingo, 31 de março de 2019

De carne, de queijo ou de fruta.

Estou interessada no que acontecerá depois que eu te invadir. Eu, para variar, não admito que agora venha o tédio. Quem é você depois que eu meter o pé na porta? E por detrás desta cortina. Quem é você nu de toda esta parafernalha tecnológica e este relógio enorme no pulso? Se eu limpar até o caroço desse teu cinismo e eliminá-lo da cena. Depois de eu atravessar a beleza, a ilusão e o consumismo dos primeiros atos. Depois que não te sobrar nenhuma gota do benefício da dúvida. Quando for depois de eu me dar conta de que não és um graveto. O que a tua ilha me reserva? O que tem no fundo da tua gaveta guardado pra mim? Serás potente o suficiente para bancar a segunda rodada deste jogo? Eu quero saber se você vai sustentar a panca. Eu pago e dobro a aposta para ver a próxima jogada. Vai ser lirismo, calmaria, uma viagem a dois, o deslumbramento da experiência ou o meu gozo no ato? Deixa eu ver um pouco mais de perto se você tem futuro. Se vai me fazer soltar um foguete por dia pela tua chegada. Se quem perde sou eu se a gente não der pé, ou se não. Eu acho melhor você ter guardado um pedaço de carne, de queijo ou de fruta para o final deste prato, porque já sublimei tudo o mais que havia para resolver antes do melhor chegar.

sábado, 9 de março de 2019

Take me to church


Na quarta de cinzas, rezei para desquerer a nossa química, desenviar aquela mensagem e dessentir a correnteza desse frio na barriga me levando de novo para o centro do furacão, mesmo sabendo que certos verbos e feitiços não admitem ser desfeitos. E nem combina comigo tentar, porque sei que eu não posso contra a força avassaladora da ação e de como me sinto quando encontro Deus nos detalhes. Dobrei os braços e sobrepus as mãos torcendo para que a luz do mesmo sol que te guiou pelas esquinas de Los Angeles em direção à tua melhor epifania também me ensinasse a lidar com o carnaval do nosso encontro. Com o que viesse ou não viesse depois.
Você ainda não sabe, mas eu só acredito nesse Deus de coincidências. Arquitetadas coincidências, como a nossa. Eu passo meses cega, e de repente sou capaz de enxergá-lo na areia, na cor do céu e nos pássaros do fim de tarde. Na figura de capuz das tuas costas. No pé magro que carimba pegadas no mundo. Naquela mesa para quatro em que só havia nós. No cachorro preto lustroso abanando o rabo. Eu só congrego na fé dos encontros marcados. Quase posso sentir palpável girando no ar o milagre da sincronicidade quando descubro que você também vive querendo saber quanto do mundo é acaso e o quanto é livre-arbítrio.
Ensina-me com bondade e paciência sobre a existência de um passo adiante do karma yoga. Sou toda ouvidos. Não há poro meu que não implore por semelhante aprendizado. Ensina-me a conversar sobre os livros que eu ainda não li, e a lê-los. A imaginar sequoias com uivos de vento em lugares magnânimos em que eu nunca estive. E, de repente, a estar um pouco neles pelo brilho nos teus olhos. Faça as contas: não é pedir demais. A gente sabe que os miseráveis da mesa ao lado jamais suspeitarão como é sentir nada semelhante. Que não são capazes de imaginar como o mundo está girando aqui agora. Que nem a sua mãe conhece estes pequenos defeitos na voltinha do teu nariz que eu acabei de descobrir e decorar sem fazer esforço nenhum. A gente não precisa dizer em voz alta que essa rachadura na minha xícara foi feita para caber a cordinha do chá. A gente sabe. De tão intuitivo, é anti-intuitivo. Você sabe, você sabe e eu tenho certeza de que só encontros assim nos curam de nós e de nossas solidões.
Ensina-me a deixar fluir com toda a força. Aprende comigo a deixar correr, como correm a vida nos trilhos e o sangue nas veias. Atua como este poderoso instrumento. Abre as portas. Deixa atravessar a Lagoa, e o mar, e o mundo. E enxerga a virtude nessa minha obsessão. Conserva com algum espanto essa tua tez de quem apetita que Nietzsche regresse. Ensina-me a ser eu como eu venho querendo ser há muito e nem me percebia. Caminha comigo. Mancha o dínamo do meu entusiasmo com a tinta da tua pele, feito combustível. Take me to church. Ou só ilumina a porta de entrada. Em ti aceito, de novo, sem saber por quê, qualquer coisa entre o profano e o sagrado.