segunda-feira, 1 de abril de 2019

Soterrar

Pra que endereço eu mando o faqueiro de prata e um cartão com o passe bem, muitas felicidades, que os filhos venham com saúde!? Como é que eu faço pra ser testemunha desse grandioso momento e, ao mesmo tempo, manter o sorriso na cara e os prazos em dia? Como é que eu vou lidar sozinha com esta merda? Pior: como é que eu vou lidar acompanhada com esta merda imensa, sem que ninguém perceba? Se eu ainda corro de medo de não estar pronta para a vida ao menor sinal de proximidade. O que que sobrou pra mim além deste orgulho grande, duro e indigesto, que não vai bem com feijão, com cerveja, com nada? Quantas camadas de lama grossa serão necessárias para soterrar mais esta? Que belo timing! Francamente, que belo timing. Como é que eu vou continuar sendo capaz de substituí-lo por alguém que vive de renda e nunca ouve Caetano? Eu vou lamber o chão de quantas praias paradisíacas, palácios e monumentos históricos até conseguir deixar de vez tudo pra lá? Quantas milhas eu vou peregrinar pra finalmente esquecer e me encontrar? Quão reclusa eu vou precisar ficar? Como expurgar estes demônios que agora cantam alto nos meus ouvidos? Quantas contas eu vou refazer sobre os preços que eu não pagaria para tê-lo por perto? Quando é que eu vou aprender a perder a competição do jogo do contente? Se eu tenho uma falta de talento nata para não ser honesta comigo mesma. Quando é que vai deixar de fazer diferença? Quando é que eu vou ouvir - e acreditar - na minha própria voz me explicando com toda a calma e paciência que agora sim, mocinha, veja bem, agora sim aquele tempo é final e definitivamente longe demais.

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