quarta-feira, 26 de junho de 2024

Freio de mão

Você já puxou o freio de mão de um carro em movimento? A tentativa de que uma parada repentina e mais ou menos calculada seja mais segura do que a iminente colisão abrupta. Primeiro o corpo se inclinando sem jeito para acompanhar o veículo. Depois o barulho. E o coice. O volante segurado firme, embora com uma só das mãos, cada milímetro equivocado podendo determinar um descontrole fatal para qualquer dos lados. Em circunstâncias como estas, dar seta adianta pouco mais que nada. Aliás, você já viu alguém sinalizar de antemão um cavalo de pau? Nem eu. Seria o equivalente ao deserto sinalizar que dentro em breve encontrará o mar. Ideal, mas improvável. Puxado o freio de mão, antes de parar, o carro vira criança. Os pneus gritam como se se jogassem no chão do mercado querendo mais um doce antes do jantar. Dinner & Diatribes. Ninguém puxa o freio de mão, porém, se já não estiver pressentindo uma ameaça de descontrole. E é curioso que o freio de mão seja puxado justamente para tentar paralisar este descontrole. Domá-lo. O que se segue é, de fato, uma parada - mas absolutamente nada delicada. Uma parada, isso sim, mas não sem o risco de rodopiar meia dúzia de vezes e bem rápido para uma direção totalmente desconhecida. Consigo imaginar sendo vistas, de fora, uma ou duas faíscas saindo das rodas, que se mantêm no lugar como por um milagre que talvez se possa atribuir à quintessência do mundo. Inércia e movimento fazendo suas centelhas. Velocidade e lentidão duelando a olho nu. Ou estranha e finalmente se completando num cenário possível, como as tartarugas e cronópios de Cortázar. Minha professora de Física do ensino médio que me perdoe, ou que já tenha melhorado em ensinar, porque ainda entendo pouco da vantagem de uma parada de rompante se os efeitos que se sente logo após a tentativa de parada são tão semelhantes aos da colisão. Uma ressaca. O corpo, com nervos, em chamas. Uma espécie de náusea agitada. Impositiva. Arrogante. Em voz alta. Parece que os airbags estouraram o para-brisa, garantindo que nada do retrovisor central para a frente seja visto como antes. Mas é o que se recomenda. Puxar o freio de mão. No banco traseiro, atada ao cinto e assustada, a fabricada suposição de que foi melhor assim. E a verdade depois da verdade anunciando que ainda não sabemos se ao final da manobra estaremos a 180 ou a 360º. Você já puxou o freio de mão de um carro em movimento? Tentar parar de pensar é mais ou menos assim.