quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Bege opaco

Morro de medo de embotar todinha ou de desbotar. Quando eu crescer mais, quero ser muito mais interessante. Rechaçar e capturar olhares de admiração ou assombro, nunca indiferença. Sacudir o tapete bege opaco de uma madame e estar, empoeirada, embaixo dele, varrida para longe dos tons pastéis cuja sobriedade é ardilosa. A vida só me vale se for vívida. O que tende a ser pelo menos um pouco insuportável de vez em quando. Compele-me a conservar um jeito anárquico de estender as roupas no varal. Acender um cigarro ou outro - só sei fumar pouco e com o pé deitado sobre o joelho. E apagar um porre ou outro - até que adquira a cirrose ou a tolerância de um fígado que processe todas as tantas lacunas de calmaria de que são feitas as histórias. Quebro essa taça em ondas de som de um riso estridente (caótico, anedótico) que grita como se avisasse para que eu nunca nunca enlouqueça ou me satisfaça calada, tediosa, neurótica. Faço voltarem secos ao porão dos meus dutos lacrimais um funeral metafórico ou mais. E hei de vez em quando tornar o implícito explícito. Como se da boca não me estivesse saindo uma atrocidade, um arrependimento ou uma amarra. Armo, então, o salseiro que eu quero. Visto roxo com amarelo. Um decote profundo. Eu pago de louca se a dívida houver sido contraída em marasmos. São todos jeitos de pintar arabescos muito coloridos na tela às vezes pálida de mim.