Solecismos
Cresci um pouco acanhada de dizer
Coisas potencialmente mal interpretadas
Fingia que entendia tudo
E levei uma faculdade para aprender
Que empleitada se escreve empreitada
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Não tenho mais todo o tempo do mundo
E isso me deprime um pouco
O todo me deixa ansiosa
Para cumprir a parte
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Academia
Acreditar no conceito
De prodigiosidade
Me fez não entender bem o valor
Da repetição
Da constância
E do esforço
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Maquiagem
Em cima de pele estragada
Não cai bem
Assim como os cirurgiões
proíbem os esmaltes
Para monitorar oxigenação
No dia a dia eu quase não camuflo
O que meu órgão de contato
- justo o maior de todos -
tem pra dizer ao mundo
sobre má alimentação,
a pia pequena lá de casa
e o hábito de dormir de maquiagem
Minha preguiça de ser clean girl, afinal.
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Só existe lugar
para a descoberta
e para a redescoberta
Quando nada é pressuposto
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Aprender com a observação do que acontece
Aos outros
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Um cigarro preso sem mãos entre os lábios
Enquanto tateia o celular
(seria a nova máquina de escrever?
A criatividade como um fim em si mesma
Como um exercício
Domesticado
A criatividade como um bobo da corte
Pelo prazer de fazer rir
Ou fotografar
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Caminhos que não se bifurcam
(qual é o oposto de bifurcam? não quero dizer convergem
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“A gente incha, né?”
Não sei se me surpreendi mais com a solidariedade viçosa da costureira ou com o fato de ter entendido que eu disse aquilo em voz alta
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Por que aquela velha culpada não parou para ouvir nossa conversa depois que eu não atropelei aquele motociclista? Eu hein.
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Meus anjos da guarda não aguentam mais, Colin Robinson.
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Desinvestir.