segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Cativo [9]

Toma aqui uma dose desse meu mau humor que vem da contratura muscular que eu confundo com cálculo renal sem aceitar um Dorflex sequer. Na volta eu rego tua plantinha do sucesso me tornando especialista em minibotânica só pra essa semana gastarmos juntos o tempo em atualizações sobre all hands, calls, one to ones e o que mais a cartilha proporcionar mais o vale-alimentação. Estou te ouvindo. Não sei cantar nem uma inteira do Paul, vamos chamar esta de uma heresia de Aquiles, mas eu bato palmas no ritmo, capricho nos uhus de cada deixa e no penteado descolado de improviso, mexo a boca direitinho no verso antes do refrão e me visto de preto pra te acompanhar de novo e pensar em lagartear conforme prometido, My valentine, enquanto eu Let ‘em in na fila do banheiro químico. Pode colecionar estas tuas fichas gastas, eu dirijo na volta. Mas podes decidir mais por conta própria qual a melhor bolsa, que no lugar da pochete servem bem estas duas camisetas belíssimas, falar com 4 policiais ou mais e fazer outro TCC sobre mobilidade urbana na capital, se a gente sentir que precisa? Não, não prometo não ser mais terraplanista das baterias de lítio. Não encosta nesse meu celular carregando. Mas pode escolher almoçar este arroz empaçocado com alga e peixe cru e achar bom, sim. Desde que respire fundo e coma aquela sopa com tripa uma vez por ano. E tire o brinco uma vez por mês. E dance dois em dois comigo na quinta música depois que o salão for aberto. Te aproxima de onde eu venho pra rimar com quem eu fui primeiro que eu faço uau pra um itinerário em círculo enquanto pesco um molhinho e quatro rodelas de salsicha nesse mar de cebola, também. Quem sabe treinando assim eu exercite aquela lealdade de ficar mais quieta. Sem dizer em voz alta que agora temos os amigos que sabem e fingem que não ou não ligam, os que não sabem mas pensam que sabem, e os que não sabem e se soubessem não acreditariam. Eu prefiro os primeiros, mas eu sou suspeita. Agora fica parado. Vou passar de novo a mão nas tuas costas lisas enquanto as pontas das orelhas despontam através do teu cabelo enrolado e crescido. Movo o pé até encaixar no teu, mesmo com essas unhas. Te acho tão bonito olhando daqui que até te peço pra mergulhar de novo só pra registrar cores de corpo-jambo no verde-água embaixo de céu-azul. Respinga em mim, amor. Me refresca de saber que eu posso desejar tudo que eu quiser contigo. Melhor ainda se fizer questão. Depois cerca com flores esse espaço largo que me dás pra que eu seja eu. Sim, podemos mesmo coexistir nestas diferenças que, se parar pra pensar no ângulo certo, nos enriquecem. Nos fazem o que tu chamou anteontem de peculiares e eu achei engraçado mas não ri o quanto devia. Sedimentei tantas fendas e picos para tantas direções e tu chegaste tão imenso de macio, encostando no que é pontiagudo de mim com tanto cuidado. Tentando preencher o resto caudalosamente. Exige mais que eu concordo, eu devo te dar. Quero te dar. Vamos aterrando o fim dessa Arco-Íris que agora vai dar na rodovia pra ela nos trazer mais rápido pra casa. As costas me doem um pouco de ficar na mesma posição, parada. Só que eu ainda prefiro o carro contigo de copiloto, o sofá contigo em suspensão de descrença e essa cama contigo acordado - ou roncando, até chegar amanhã cedo e podermos trabalhar de novo.