O peso que sustenta o teu corpo
é o mesmo
da força que subjuga
e faz tensão
entre as classes.
Cordas te amarram
cautelosamente
a este cinto-parafernalha inventado de ancorar. Enquanto eu só reclamo
de mais um prazo
ou telefonema ou atendimento sem marcar tu cantarolas faceiro It’s my life em coro com eles,
pela quinta vez só o refrão,
em alguma língua
entre o grego e fonemas em mastigação. Tua alegria não se ensina
em curso de idiomas. Esta simplicidade se perde ambiciosa na primeira casa de dezena de milhar. Teus cotovelos estão
suspensos
fazendo subir, descer, desempenar os barulhos raspados ritmados contra o concreto.
Os meus fincados
nessa mesa comprida de empilhar
pastas,
canetas,
atestados,
anos e anos e cálculos
e toda sorte de documentos. Não desvio da rota. Caminho equilibrando entre as pedras. Tu tens os pés arrasados no chão ou voando soltos no ar. Eu te dirijo o bom dia toda manhã dessa obra interminável,
então ao despedir tu me dizes:
tchau,
bom descanso. É o que também te desejo. Quero encurtar a distância, desde que sem margem para má
interpretação. Mas temo que tenha pouco apelo
te explicar que a casa da minha infância também não tinha TV a cabo. Que eu conheci a valsa que dançam as parcelas e os agiotas. Que eu também tenho roído as unhas. Que eu também sou versada em todos os sertanejos antigos com ênfase em Decida, do Milionário e José Rico. Que eu também tatuei o rosto esta manhã
- à noite, porém, eu tiro com algodão. Que eu também já dividi apartamento
com uma amiga para com isso dividir os custos e a companhia. Mas não estou dependurada agora - e esta anti-gravidade econômica se impõe silenciosa entre nós. Se careces de outros luxos,
recorda ao menos: o sol vai embora, tu vais.
Eu sempre fico. Tu precisas de luz natural para obrar. A mim uma fluorescente basta. Tu no talabarte do lado de fora. Eu tão dentro. Estamos movendo o mundo a construir - prédios e futuros.