sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Alcautraz [6]

Bem-vindos à novela, digo, ao novelo, digo, a apenas outro tour pelo Caulabouço da mansão da minha caubeça.
Este único trecho acarpetado do corredor do Caulabouço não está aqui à toa. Quem tira os sapatos sente a felpa macia e fina em contato com os dedos, elogiando a gerência pelos seus talentos com a decoração acolhedora sem se dar conta de que esta é só mais uma presa, estirada graciosa, em tons de sépia e voluntariamente ao chão como a mocinha sofredora de uma novela de época se esgueirando para baixo aos prantos pela soleira da porta. 
Escondida mas não muito, na verdade apenas perenemente camuflada: a Melancolinha. Ao desavisado, aconchega. A quem se demora, seduz e deprime. Ceci n’est pas une linha. É um átomo que contém em si fração completa de toda a obra. A Melancolinha é um fio que, fora da trama, faz o curso entre a própria cela e o Caustelo, instigando a procura por este porão como migalhas de João e Maria ensinando um caminho ruim. Mas vice-versa.
Fina feito a teia de uma aranha, às vezes se aninha recolhida e parece pequena: é um emaranhado capaz de caber na planta dos pés e é preciso puxá-la com força e insistência para que se revele. Outras vezes, porém, Melancolinha sabe fazer o ritmo de um ioiô que vai e volta, exalar o cheiro de chá dos sachês, tecer mantinhas térmicas ou cobertores até a orelha ou se costurar em urdiduras repousando, terna e lenta, dolorida como quem foi pisada em uma roseta.
Vez ou outra reaparece imponente, podendo tensionar de um lado a outro e produzir tropeços. Caprichosa, outro dia Melancolinha se travestiu de um bordado na forma da letra S para dizer Sim, Saramago, é preciso Sair da linha para ver a linha.
E esta é lição suficiente para hoje e para sempre.
Mais vale aguardar as cenas dos próximos capítulos, digo, a nossa próxima visita.