Na Economia dos meus afetos, dia sim outro também um ábaco colorido e plástico marca negativo: sinto que estou te devendo. Com frequência, falta ponteiro no meu relógio de adulta para quem eu gostaria de ser para ti. E se nos arábicos as coisas vão mal, nos fonemas não vão melhor. Tua fala é tão enrolada - mesmo agora, conversa pouco comigo. Parece outro idioma. Talvez se possa dizer o mesmo de mim, hermética, aqui, no centro destas quatro paredes altas de minhas boas intenções não postas em prática. Quando enfim te deixas levar pelo oceano, eu te vejo pela tela. Aí mesmo é que anseias ainda menos por mim. Fica evidente a desconexão que se estabeleceu. Outras vezes, gosto de pensar que ainda teremos chão para alinhar as prosas e interesses. Que coexistiremos juntos num tempo futuro de semelhanças leves e intuitivas, marcadas pela afinidade e pela abertura ao diverso, mais do que pelo sangue. Me distraio com o pensamento de que nosso momento de nos darmos melhor apenas ainda não chegou, está em suspenso, perenemente virtual - encerrado no factível de si mesmo. Encerrada no factível de mim mesma. Eu sou assim, vais saber se eu não mudar até te dares conta. Eu também ainda sou pequena.
Queria estar mais presente e te aconselhar desde já, fui coroada para isso. Só que eu sei muito pouco. Muito pouco além de que as vidas podem ser paralelas e distantes - até se cruzarem.
Ainda outro dia me alcançaste um vaso cerâmico pequeno, branquinho, com uns detalhes de tinta marrom e um trincado ou outro estilizando. Parecem sujeira imperfeita e cicatriz. Dele ascendem galhos relativamente grossos e folhas muito verdes e vivas, assimétricas. Pra cá, pra lá. Desde então deste para ser presença viva na estante da minha sala. Acertou quem disse que era fácil de cuidar. Te espio, imóvel exceto pelos olhos e pensamentos que bem poderiam te acompanhar os movimentos, a uma terna distância das raríssimas irrigações, como quem torce para que também o sentimento vingue sozinho, com a luz indireta de qualquer coordenada, meridiano ou hemisfério. O ordinal de qualquer mundo (o meu é todo latino, o terceiro, vais saber).
Fico querendo espiá-lo outra vez, mais adiante, quando tivermos novos olhos que sejam nossos. Porque fomos conectados por apreços que nos precederam. Estavam postos à mesa. Talvez seja natural que não saibamos bem ao certo o que fazer com isso. O tilintar de uma colher nessa chávena de chá te faz ouvir o que eu não digo: ao cresc(h)er, preferia que te parecesses mais com a tua mãe do velho testamento do que com teu pai. Mas prefiro mais que não pese o peso das divagações. Combinamos assim: conserva o teu olhar de menino que eu vou conservando em algum lugar aquele meu, de menina, até que uma nova realidade nos torne grandes amigos.