segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Eco [31]

Visto um chapéu de safári verde-oliva sempre que preciso fazer uma expedição aos arquivos antigos em busca de mais espaço. É porque é muito selvagem visitar a minha história contada - e repetida - por todas aquelas figuras ou missivas e doçuras-amarguras que agora parecem tão antigas. Experimento quase forçado esta onisciência zenital, vendo de cima e de depois deste monte onde se amontoaram todas as minhas ingenuidades e buscas por reciprocidade, todos os meus dramas e certezas, no qual por cima se esfarelam fininhos e infiltrados os ciúmes e traumas, as dedicações ou demoras, os egos e carências. Nunca mais serei ocioso a ponto de me fotografar letra por letra. Há nisso algum saudosismo, mas mais uma espécie de alívio. Revisitar estes arquivos é me perguntar se vivem, do que não se alimentaram e como repousam no fundo da minha memória os eus passados. São coordenadas para voltar a mim ou muletas atrás das quais me escondo, como uma vez me insinuou a Laura? Estes registros são, agora, como ipês amarelos que contêm a primavera inteira - que florescem e depois minguam, que espatifam, que mofam, que secam, que decompõem em adubo urbano os asfaltos, sujando o caminho. Mas são tão bonitos.