domingo, 20 de setembro de 2020

Resetar

E se as noites pudessem resetar os dias? E a gente acordasse podendo gozar sem remorso, levantar cedo, começar um exercício físico. Dizer não. Elogiar o pai. Assistir ao Pós-F da Fernanda Young num monólogo da Maria Ribeiro. Revigorar. De repente até tomar mais chá do que álcool. Ter uma parte muito importante do que a gente precisa ser sempre bem guardada. Acessá-la. Voltar a alcançar essa parte, nem que seja com a ponta dos dedos, no meio das costas. Tirar das coisas o peso que elas costumam ter. Depois tirar das costas essas mesmas coisas. Encará-las com respeito, sem essa do crânio de Shakespeare, pra não repetir os maus hábitos. Escolher largar um pouco as obsessões. Abraçar o caos sem alimentá-lo. Regando as plantas. Lavando a louça. Respeitando as fraquezas. Entender que a modernidade é relativa e talvez ela não precise ser perseguida. Respirar bem fundo e não sentir mais cheiro de naftalina. Olhar para o pé de hortelã e vir leve uma ideia de que a gente só vinga sem a parte morta. Para rir de novo. Para enxergar mais de perto as oportunidades descartadas por medo. Para permitir que muitos momentos leves como esse aconteçam sem anúncio. Olhar no espelho e perceber como é surpreendentemente lindo ter vindo ao mundo bem sozinha. E que a solidão é um caminho de ida e volta. E o quanto os caminhos de volta podem ser libertadores. E o quanto se reinventar não cansa. Recomeçar não gasta. E se a gente percebesse que é meio que isso que as noites fazem?

2 comentários:

Jaque disse...

Eu acredito na força dessas noites e dessa vontade de revigorar <3

Júnior Oliveira disse...

Que belezinha.