sexta-feira, 9 de maio de 2025

Salve Jactar

Na semente da minha árvore genealógica
houve um escravo
Deixou de ser cativo
Germinou
E fez nós todos:
Bravios, fortes e bravos
Rebeldes
de doer
terrivelmente
Insubordinados.

Aquele escravo arredio vagueia
Ancestral
Em espírito
Em cada folha tempestuosa
De sobrancelhas grossas.

No tronco, abraça a fúria resistente
de não se dobrar
Por pouco
ainda carrega
Dores tão tão antigas
Das quais a memória
da pele, há muito parda,
dos piores açoites
Nunca se esqueceu

Nossas mulheres
De largos quadris
E cinturas bem finas
Jactam-se ébrias em brios
De serem fortes
Muito mais que os homens
— os seus primeiros,
que não prestavam,
já se foram —
Tanto quanto as que vieram antes,
E infelizmente também
já se foram
De maneiras outras
Pelas quais lamentamos
demasiado.

Feito o que se pode
com o que se tinha
Na neblina da primeira hora da manhã
Rezam a metade de um terço com fé
feito papagaio:
Iluminai-me!
Iluminai-me,
Ó Pai bem forte,
Ensina-me a
não precisar tanto
A plena liberdade.
Rezam enquanto o germe
ainda brota
Nos corações
quando aflitos
Enquanto descansa
Combalido dos combates
olhando
de baixo
da terra
da árvore frondosa
Travado nas rodas
de uma cadeira
Orgulhosíssimo

Assustados com o que não soubemos
Como ele, ex-
Cravo um amor por qualquer poder
Pra sermos vistos, amados
Considerados
Mais votados.
Como ele, odiamos para sempre:
perder;
preguiça;
a escassez;
a ingratidão;
mesquinharia;
devedores contumazes;
não sermos donos
nem de nós mesmo
alforriados;
quem nos tem ofendido; a
mesma cobra
mesmo
que nunca mais nos pique;
quem tratou os dentes cedo
e com bom plano de saúde; ou
que suficientemente
— para nos fazer esquecer do passado
não nos
Acatem
Adivinhem,
Amem.

Incondicionalmente.
Como, enterrada em propósito,
hostil não soube
a semente.

O sangue vale mais que a reza.