sexta-feira, 23 de maio de 2025

Buscar o balde

Quem inventou as horas
deu-nos a inventar a gestão do tempo
Noção de obrigação
Procrastinação
E o controle dos im-
pulsos, que tic-tacam.

Foram as horas que engenharam a moral
E esse lance de ser pontual

Ponteiro menor, perpendicular
Número em número
Marca o’clock
Apontando
Em ponto
ou traço
A raiz quadrada
dos começos
Das entradas
E compromissos
Mentais

Pouco ócio
Muito cálcio
Pra aguentar a dor nos ossos
de quebrar
o tempo em fatias
E sobre elas ser responsável
Por chegar
E sair
O atrasar
De repente
É caso de não pensar em
Sentir-se devendo
À etiqueta da agenda alheia

O tempo-rei de Gil avança
— e não se compra o Rei,
como à terra dos feudos
Ou a uma carta de baralho.
Incorruptível,
Só sabe andar pra frente
Sem olhar pros lados.

O tempo é um sol
que gira em curva no céu:
metade até chegar a pino
fazendo alarde
e soar um sino
Outra metade em queda
pra chegar à noite
que lhe põe de novo um fim, zera a contagem
De buscar o balde.