quinta-feira, 15 de julho de 2021

Posta-restante

Ainda há o que faça aquela coisa oca se esfarelar em mil. Uma sensação antiga: poodle raivoso atrás da porta. Ossos contra ossos. O beijo do Klimt. Chão de taco. Grandes rodoviárias. Pequenos silêncios que devolvem o controle. Mentiras deslavadas. São imprevistos proibidos feito zonas radioativas. Porque evocam uma melancolia subterrânea como se o passado ficasse umas quatro camadas debaixo dos pés. Volto para juntar os farelos como quem desce um túnel com uma escada em espiral até o que é profundo. Quero estar de volta nesse ar escasso e úmido. O mesmo das covas, das cavidades e das alcovas. Quero me lembrar do que fazia ficar depois de tanto insistir para não esquecer do que fez partir. No dia a dia aquela coisa quase me escapa. Quando volto para ela, oca como agora, amaldiçoo ter gasto as minhas energias mais frescas e vivas naquele período. Depois amaldiçoo a coisa ter ficado oca. Sem recheio ou substância. Sem um vestígio sequer que não o vazio protegido por uma redoma, e que se esfarela de vez em quando. Ainda me espanta que haja o que faça aquela coisa oca se esfarelar em mil, como um gatilho. E as partículas voando soltas. Minúsculas. Quânticas. Vivas. Tendo que ser recolhidas de novo. Ainda me espanta que tanta coisa aqui passou e aquela coisa oca fica.

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