quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Por conta própria

De passagem de volta quase comprada para o próximo desatino
Aérea
Como a minha cabeça
Eu me pergunto como estabeleci o teto dos voos que alcei.
Por que sempre teimo ir ver se estou na esquina
Se meu destino final está aqui, na esquina.
E se digo esquina quero dizer:
Esta espécie de encruzilhada.
Por que flutuo no conhecido, orbitando as falhas, no que já provei.
Por que evito deixar espaço para momentos como aquele em que não estava dizendo que não, e também não estava dizendo que sim, e de repente as pernas podiam estar cruzadas mais para dentro da mesa e eu me esticava para trás fazendo um quiz sobre tudo-menos-a-profissão. É muito mais íntimo do que beijar na boca. Também mais incauto. Mais frugaz: uma mistura de sagaz, frugal e fugaz. Talvez até mais eu.

Porque quero saber. Ter controle.
Estar bem informada sobre o que me acontece.
Como se pudesse engarrafar este líquido que me escorre entre os dedos, para conseguir contê-lo.
Mas sei que esta condição não se impõe para mim senão com o peso de uma escolha.
Se tento me equilibrar, digamos, sobre esta tábua de madeira em cima de uma bola, é como se a certeza de que vou pender para um lado ou para o outro qualquer hora, em franco desequilíbrio, esmagasse a mim e ao outro ao mesmo tempo e rápido.
Como abandonar esta neurose dualista?
Esta espera eterna por cair.
Talvez para isso precise fugir um pouco de mim.

De passagem de ida quase comprada para o próximo desatino
Aérea
Como a minha cabeça
Eu me convenço de que só assim saberei desobrigá-lo de ser completo
Só assim posso aprender a deixá-lo ir, quando for a hora:
Se antes houver aprendido a ir e a voltar
Por conta própria.

Nenhum comentário: