sexta-feira, 2 de maio de 2025

As serei

sonhei com sua senhora sorrindo
redondamente grávida
                            enganada também
banhada às águas dulcíssimas do equívoco
no escuro prestes a parir
cópia de si
ou Ana ou Vitória ou
outra filha da
santa
sabe-se lá das escolhas dessas moças de hoje em dia
em serem santas
podendo ser tudo
escolhem justo
chás revelação
olhar de candura
vestidinhos soltos de florzinha em tom pastel com lastex
barato
sainhas rodadas pra baixo do joelho
caras
como você
afundados em papéis
bem definidos
subindo montanhas
de isolamento racional
e a vozinha dela mansa
ela toda mansinha
lentificada e meiga
nenhum pelo fora do lugar
nenhuma falta de juízo
nenhum excesso de passado
que possa contar

e se jamais as serei
é que eu me fiz primeiro eu
pergunte a Cássia
à voz rasgada
dos cheques e pileques
meu carro
de ir embora
e tudo o mais

não que minha mesa não seja posta
às vezes
não que eu tenha visto bem onde deu
o onde vai dar
nem que eu possa, dando fé, atestar
se é mesmo boa sorte
o azar
de eu ser das outras, que só caladas são poetas
de eu ser das outras, que sentem
muito de dentro
ainda o assomo
de retaliar
nem que seja
com um poeminha raiz
que
        eles não dizem o que a gente diz
        eles não tocam bem onde lateja
        eles não fazem o que a gente faz
        se danem eu e
        é'ssa mania
de não me deixar em paz